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sexta-feira, julho 28, 2017

"Clodimar - Do Crime ao Santificado Popular"

Do cortejo abre-caminhos até ao final com o rito da comunhão.  Sim, há muita coisa boa em Clodimar - Do Crime ao Santificado Popular", que estreou hoje (28/07) no Teatro Reviver em Maringá  (PR).
A peça que se baseia na  primeira grande  tragédia da crônica policial de Maringá - a morte de um inocente menino de 15 anos pela PM, em 1967-  faz correlações do personagem
que tornou-se santo  e ao mesmo tempo a grande vitima da ditadura em seus métodos. 
Clodimar é um mito popular e dele partem diversas interpretações e possibilidades. Mas a  direção de Roberto Corbo e Tânia Farias consegue escapar dessas armadilhas. 
O que mais se vê no palco - local maravilhosamente ocupado pelo próprio público - é o conjunto do barro, do retirante. O nordeste está ali e  a família migrante de Clodimar  agrupa todos sonhos e mazelas.  
Corbo e Tânia tiveram o distanciamento necessário para narrar o drama Clodimar sem as habituais afetações nativas, ao mesmo tempo que nos aproxima da violência crua. Neste momento, o que ocorre com o menino é o que poderia ocorrer como qualquer um de nós.
Isso se percebe no momento em que Clodimar é torturado.  Parte é mostrada como se ele estivesse num pau de arara, mas o que inquieta é justamente aquilo que não se vê. 
É a cena do quarto do hotel em que não há personagens em cena, somente as vozes e os gritos da tortura. O público, sentado em circulo, se sente impotente. Cada espectador tenta ver algo de acordo com o angulo em que está sentado, mas só encontra gritos. A falta da visão aguça os ouvidos. 
O espetáculo pode frustrar aqueles já acostumados a linearidade da historia do protagonista e da forma como é retratada. Digo isso pois o "Caso Lô" -  como é conhecido pelo moradores mais antigos de Maringá - tem linguagem e forma muita vezes  barroca.   
"Clodimar" combina um texto repleto de fragmentos. Essa colcha tem retalhos muito bem escolhidos e lapidados por Carolina Santana, sobretudo os textos de Frei Betto.

Porém, seria ingenuidade entender "Clodimar" como  uma peça que quer reforça  uma mitologia cristã.  O  Cristo aqui é revolucionário e  Frei Betto sempre acreditou nisso. 

 Depois da tortura, da morte e dos milagres atribuídos ao menino santo, o espetáculo  fecha com uma festa para compartilhar o pão e o vinho junto ao publico.

 Esse é o grande final.  Em "Clodimar - Do Crime ao Santificado Popular",  o espectador é um companheiro, aquele que com quem se compartilha o pão e o milagre da sobrevivência. 
(Marcelo Bulgarelli)     

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