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terça-feira, dezembro 05, 2017

O poeta que era uma multidão


Pelo que se acreditava, Fernando Pessoa, o poeta de Portugal, levava dentro dele outros
cinco ou seis poetas.
No final de 2010, o escritor brasileiro José Paulo Cavalcanti concluiu sua pesquisa de
muitos anos sobre alguém que sonhou ser tantos.
Cavalcanti descobriu que Pessoa não abrigava cinco, nem seis: levava cento e vinte e sete
hóspedes em seu corpo magro, cada um com seu nome, seu estilo e sua história, sua data de
nascimento e seu horóscopo.
Seus cento e vinte e sete habitantes haviam assinado poemas, artigos, cartas, ensaios,
livros...
Alguns deles tinham publicado críticas ofídicas contra ele, mas Pessoa nunca havia
expulsado nenhum, embora deva ter sido difícil, suponho, alimentar uma família tão numerosa.

EDUARDO GALEANO,

Fernando Pessoa é Botafogo.

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