Marcelo Bulgarelli - Jornal O Diário do Norte do Paraná
Publicada em 10.10.01
O Parque do Ingá completa 30 anos cercado de turistas e ainda longe dos maringaenses. Abandonada nos últimos anos, a balzaquiana reserva florestal resiste ao tempo e se veste com seu melhor traje para o seu aniversário, tentando atrair para a festa aqueles que se orgulham em possuir a grande floresta no coração da cidade.
Para essa festa, estão confirmados cerca de um milhão de convidados. Esse é o número anual de visitantes que não pagam nada para contemplar a maior atração turística da região noroeste do Paraná. As festividades, no entanto, se concentram nesta semana. Hoje, a comunidade dará um grande abraço em torno do parque.
Durante esta semana, o local deverá receber 120 mil pessoas. Espera-se que os maringaenses possam (re) descobrir o parque, principal área de lazer para todos os municípios da região noroeste. Turistas de cidades vizinhas visitam o local nos finais de semana, mas o parque também é parada obrigatória para profissionais que participam de congressos e de outros eventos nos hotéis do centro da cidade.
Aberto ao público em 10 de outubro de 1971 pelo então prefeito Adriano Valente (1969-1972), o Parque do Ingá sofreu com a contaminação do lago e com o aumento das voçorocas provo-cadas pelas águas das chuvas. Para minimizar o problema, a Secretaria de Meio Ambiente vem construindo uma canalização nas duas extremidades da área.
ÁGUAS
A qualidade da água das nascentes vem sendo monitorada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), por meio do Laboratório de Saneamento Básico. Postos de combustíveis e estabelecimentos similares teriam ocasionado um aumento de metais pesados no lago. Os últimos números de análises mostram que pelo menos os índices de poluição vem diminuindo.
O abastecimento de águas no parque também foi prejudicado pela abertura indiscriminada de poços artesianos em condomínios daquela região. Esses poços ocasionaram a diminuição da vazão das minas. Uma prova disso é a falta de água corrente na Gruta de nossa Senhora Aparecida. A nova pista para caminhadas em torno do parque também contribuiu para a perda de permea-bilidade do solo.
E para defender a fragilidade da reserva, está sendo criada a Associação dos Amigos do Parque do Ingá, uma Organização Não Governamental (ONG) que em breve poderá gerar uma fundação para cuidar da área. Outra ONG, a Funverde, pretende criar um espaço para educação am-biental dentro da reserva.
Como também é padrão em todos os parques do mundo, a reserva de Maringá contará com apenas uma entrada. O portão de acesso existente na Vila Operária será fechado para garantir a segurança e o melhor controle do fluxo de visitantes. O parque conta atualmente com apenas 17 guardas.
Outra novidade é o recolhimento do ICMS Ecológico. Maringá tem oito áreas beneficiadas com o imposto, cerca de R$ 100 mil por ano, mas esse valor sempre foi diluído na arrecadação total da prefeitura.
Agora, o município espera poder contar com essa verba para manutenção de seus espaços ecológicos. Entre as melhorias, a reforma nos banheiros, bebedouros e a construção de sanitários próximos a pista de caminhada.
Outra possível fonte de recursos para o Parque do Ingá são os futuros quiosques para a venda de souvenirs. Quem visitar o local poderá comprar camisetas, postais e outras lembranças da reserva.
NOVIDADES
O visitante já pode encontrar algumas novidades criadas pelo atual diretor e artista plástico João Batista Lima. Colocando literalmente a mão na massa, ele construiu um monjolo em homenagem aos pioneiros, construído com a madeira de árvores mortas por raios no Parque das Grevíleas. A fachada do parque também ganhou nova roupagem.
Se hoje o Parque do Ingá ainda não se encontra em condições ideais, pelo menos está longe do que foi deixado pela última administração. São 47 hectares de matas nativas abrigando cerca de 70 espécies de árvores. Algumas, por sinal, já extintas no Estado. Tudo isso somado aos répteis, aves e mamíferos.
A reportagem de O DIÁRIO acompanhou o ex-prefeito Adriano Valente em uma visita ao parque. Ele não conseguiu disfarçar a emoção ao andar pelas trilhas, sinuosamente projetadas há 30 anos para não derrubar nenhuma árvore. Hoje ele será homenageado pela prefeitura pelo seu pioneirismo. “Eu acreditava na ecologia antes mesmo de existir essa palavra”, brincou.
1971
Valente conta que tanto o Parque do Ingá como o Bosque 2 estiveram abandonados até 1969. Lenhadores derrubavam árvores e no final da década de 60, um incêndio destruiu parte da mata, em plena época e seca. Houve até quem defendesse a erradicação total da reserva, objetivando o espaço para empreendimentos imobiliários. Felizmente, isso não ocorreu.
A prefeitura, então, abriu 7 mil metros de caminhos revestidos de pedras rústicas. Muitos dos paralelepípedos haviam sido retirados da avenida Brasil, antes do asfaltamento. Também foi criado um lago artificial com 70 mil metros quadrados cuja bacia se encontrava desmatada para extração de barro para as olarias. O local anteriormente era conhecido como Bosque 1 e passou a ser denominado de Parque do Ingá devido abundância da planta do gênero Ingá.
Valente lembra que chegou a procurar Burle Marx para desenvolver um projeto para o parque, mas o renomado paisagista não abriu mão de seus elevados honorários. Assim, o prefeito teve que trabalhar com a prata da casa. E não se arrependeu.
A LOCOMOTIVA
Na entrada, ficaria a histórica locomotiva 608 à vapor, a primeira que chegou a Maringá em 31 de janeiro de 1954. Valente conta que para transporta-la, foi necessário improvisar trilhos que eram deslocados a medida que o trem de ferro avançava rumo ao parque. Na época, um bêbedo teria gritado dizendo que acabara de ver “um trem passar no meio da rua”.
Hoje, na prefeitura, há planos para que a locomotiva volte a funcionar percorrendo um roteiro turístico de Sertanópolis até Paiçandu. Os entendimentos estão sendo feitos com a Rede Ferroviária que deixou a locomotiva em regime comodato com o município.
O LAGO
Mas nem tudo foram flores. A oposição dizia que o lago jamais estaria cheio d’água e que o dique levantado pelo engenheiro Romeu Egoroff não iria resistir a pressão. Outros apostavam que o lago secaria na época da estiagem. Silenciosamente, Valente e sua equipe cuidavam dos jardins e afirmavam que o lago estaria cheio em menos de seis meses. “Mas a bacia encheu em quatro meses. Nós fazíamos os cálculos utilizando uma lata de 20 litros e observávamos o tempo em que ela demorava a encher”, revelou Valente.
Para homenagear as lavadeiras que se utilizavam a água corrente do bosque, foi constituído o “poço das lavadeiras” onde hoje existe o Jardim Japonês. A administração municipal resolveu doar tanques para aquelas humildes mulheres diante da impossibilidade em continuar usufruindo dos mananciais da reserva.
ZOOLÓGICO
O mini-zoológico, segundo Valente, serviria apenas como uma pequena mostra de nossa fauna, sem grandes pretensões. Havia até um grande viveiro de cobras. Com o passar dos anos, porém, o parque foi recebendo doações de animais exóticos e de outros continentes, como os leões Kimba e Dot. Esse casal, por sinal, consome anualmente R$ 20 mil em carne.
Atualmente as acomodações não são ideais, mas pelos menos estão dentro dos parâmetros mínimos determinados pelo Ibama. A idéia agora é descentralizar o zoológico, espalhando as atrações em torno do lago. Assim, o Parque do Ingá poderá se transformar em um parque-zôo interado com a natureza. É bom ressaltar que o Parque do Ingá conta com 300 animais soltos como os quatis, lagartos, macacos e aves, além de outros 250 em cativeiro.
No meio do lago ainda é preservada a “Ilha dos Macacos”, hoje habitada por uma roliça capivara. A área foi recuperada recentemente com a plantação de árvores e construção de abrigos para os animais.
LAZER
Na área destinada ao lazer, nos próximos dias, o parque estará recebendo 30 pedalinhos novos. Em torno do lago,o visitante já pode contar com novos bancos para contemplar a paisagem, os animais e as casas de João-de-barro. Cada banco contará com uma frase ecológica criada por estudantes da cidade. Também está prevista a reconstrução de um mirante e um playgraund em madeira.
Desde a inauguração, foram feitos vários projetos para revi-talizar o Parque do Ingá, sendo um deles durante a administração de Ricardo Barros. Previa até a construção de um restaurante flutuante. Hoje, porém, essas idéias estão descartadas pois comprometeriam o meio ambiente. Além de uma intervenção do Ibama, o parque perderia o ICMS Ecológico e outros recursos.
O Jardim Imperial Japonês, construído em 1978 em homenagem ao Imperador Akihito e sua esposa Imperatriz Michiko, foi outro espaço recentemente recuperado. Do local, foram retiradas 200 toneladas de entulhos do lago.
A floresta também está recebendo novas mudas, principalmente de árvores nativas. Ela abriga a nascente do ribeirão Mos-cados, um dos principais mananciais do município.
PLANO DE MANEJO
Assim como o Bosque 2, o Parque do Ingá tem a forma de pulmão, contornado por uma calçada com 3 quilômetros de extensão. Hoje os estudos sobre o local se baseiam no Plano de Manejo de 1994, efetuado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente/Secretaria de Planejamento, UEM, Departamento de Agronomia e Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Na época, a administração do parque era Lídia Maria Marostica, atualmente na coordenadoria de projetos de recursos ambientais.
O Plano de Manejo desenvolvido durante a administração de Said Ferreira foi criado diante do elevado nível de degradação em alguns setores do parque. Os objetivos eram proteger e eliminar as causas de alteração dos ambientes naturais, recuperar as áreas alteradas, proporcionar oportunidades para pesquisa científica, educação ambiental e recreação.
AS ZONAS
O parque foi dividido em 5 zonas. A Zona Privativa é aquela formada por áreas quase inalteradas. A Zona de Uso Extensivo são áreas naturais alteradas para facilitar a estudos e recreação. A de Uso Intensivo é onde estão as atividades e serviços como o portal de entrada, o zoológico, o playground, a lanchonete, o Jardim Japonês, a gruta Nossa Senhora Aparecida e a pista ao redor do lago.
Na Zona de Uso Especial funciona a Adeam, Associação de Defesa e Educação Ambiental de Maringá, o posto da polícia Florestal e a administração central do parque. O improvisado abrigo dos funcionários está sendo reconstruído.
O Plano de Manejo incluiu, enfim, a Zona de Recuperação formada pelas áreas onde ocorrem a degradação dos recursos naturais, merecendo atenção especial dos cientistas e visitantes.
Mas a verdadeira função do parque ainda é alvo de discussões. Muitos acreditam que o espaço deveria ser voltado somente para a preservação, longe do lazer. Outros defendem o desenvolvimento das duas finalidades ao mesmo tempo
10.10.01
No video abaixo, o Parque do Ingá com imagens de 1996.
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