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segunda-feira, outubro 19, 2015

Um Bonde Chamado Desejo

Tennessee Williams

(...)
" Mitch
Você não se hospedava num hotel chamado Flamingo?

Blanche
Flamingo? Não! Chamava-se Tarântula! Eu me hospedava num hotel chamado Tarântula Negra.

Mitch ( com ar de estúpido )
Tarântula?

Blanche
Sim, Tarântula. É o nome de uma aranha muito grande. Era para lá que eu carregava as minhas vítimas. ( Derrama mais uma dose no copo
) Sim, eu tive muitas intimidades com estranhos. Depois da morte de Allan... as intimidades com estranhos me pareciam ser a única coisa
capaz de encher meu coração vazio. Eu acho que era pânico, somente pânico, que me levava de um para outro, buscando proteção aqui,
ali, até mesmo nos lugares... mais improváveis... até mesmo um rapaz de dezessete anos, mas alguém escreveu ao diretor da escola
dizendo: "Essa mulher é moralmente incapaz para exercer sua função!"( Atira a cabeça para trás com uma risada convulsiva e soluçante.
Repete então a afirmação do diretor, ofega e bebe ) Verdade? Sim, suponho, incapaz é a palavra. Então eu vim para cá. Não havia nenhum
outro lugar para onde eu pudesse ir. Estava acabada. Você sabe o que é estar acabada? Minha juventude, de repente, tinha ido embora,
por um cano de juventude, de repente, tinha ido embora, por um cano de esgoto. E... foi então que encontrei você. Você disse que
precisava de alguém. Eu também precisava de alguém. Agradeci a Deus por me ter mandado você. Você parecia tão bondoso. Um abrigo
na rocha do mundo, onde poderia me esconder... Mas acho que estava pedindo, desejando... demais, Kiefaber, Stanley e Shaw já tinham
amarrado uma lata velha na cauda do papagaio.

( Há uma pausa. Mitch olha para ela em silêncio )

Mitch
Você me mentiu, Blanche!

Blanche
Não, não diga que eu menti.

Mitch
Mentiras, mentiras, por dentro e por fora, tudo mentiras.

Blanche
Por dentro nunca, eu nunca menti no meu coração."
(...)

TENESSE, Williams. Um Bonde Chamado Desejo. São Paulo, Abril Cultural, 1976, pág. 170


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