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sábado, junho 21, 2014

Rose Marie Muraro

(Via O Globo)

Uma das maiores representantes do movimento feminista no Brasil, Rose Marie Muraro morreu, na manhã deste sábado, aos 83 anos, em consequência de problemas respiratórios. Ela tinha câncer na medula óssea há cerca de 10 anos e, desde o dia 12 deste mês, estava na CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana.

Nasceu praticamente cega, e somente aos 66 anos conseguiu recuperar parcialmente a visão com uma cirurgia. Estudou Física, foi escritora e editora de livros, assumindo a responsabilidade por publicações polêmicas e contestadoras. Nos anos 1970 e 80, foi uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil.

Ao longo da vida, escreveu 44 livros — como "Os seis meses em que fui homem" (1993), "Feminino e masculino" (2002), "Por que nada satisfaz as mulheres e os homens não as entendem" (2003), que venderam mais de 1 milhão de exemplares. Em 1999, ela contou sua história na autobiografia "Memórias de uma mulher impossível".

Em longa carreira como editora, Rose Marie 1.600 livros na editora Vozes e, mais tarde, na Rosa dos Tempos (filiada à editora Record). Na Vozes, ela trabalhou com o intelectual Leonardo Boff durante 17 anos, e das ideias dos dois nasceram alguns dos movimentos sociais mais importantes do Brasil no último século XX: o movimento de emancipação das mulheres e a teologia da libertação. Em 1984, os amigos acabaram sendo expulsos da Vozes por ordem do Vaticano.

— Minha mãe lutou a vida toda por um mundo mais justo. E ela consegui fazer uma revolução por meio da literatura, o que é muito bonito. Foram muitas conquistas, e isso nos deixa muito orgulhosos — afirma uma de suas filhas, Tônia Muraro.

Segundo Tônia, graças aos esforços de sua mãe, será aberta em breve no Rio a primeira biblioteca especializada em estudos de gênero do Brasil. O espaço ficará dentro da sede do Instituto Cultural Rose Marie Muraro, que desde 2009 ocupa uma casa na Glória.

A escritora e membro da Academia Brasileira de Letras Rosiska Darcy de Oliveira ressaltou sua perseverança em lutar pelo direito das mulheres:

— A Rose foi um grande nome de liderança na luta de todas nós mulheres. Foi, sem dúvida, uma das pessoas mais importantes do movimento feminista, mas levou o feminismo a um campo mais amplo, ao humanismo. A contribuição dela como intelectual e como militante foram enormes. Não é possível destacar uma obra apenas, mas sim o conjunto de sua produção. Além de uma intelectual, como pessoa era uma mulher de coragem, que enfrentou uma série de tabus e desafios — observa Rosiska. — Ela enfrentava uma deficiência visual muito séria, enxergava pouco, mas isso nunca a impediu de fazer nada. Viajava pelo país inteiro para participar de seminários, debates, colóquios, onde sempre usou sua inteligência e poder de convencimento para mudar o modo como pensávamos as coisas. A Rose foi uma pioneira e teve seu reconhecimento como tal.

A presidente Dilma Rousseff lamentou a morte da militante, em comunicado divulgado via Twitter:

"Foi com tristeza que soube da morte de Rose Marie Muraro, ícone da luta pelos direitos das mulheres."

Já o deputado federal Jean Wyllys enfatizou a busca da intelectual pela igualdade, em comunicado divulgado pelo Facebook:

"Rose definia sua luta como uma luta por um mundo solidário a toda o que inspira todas as lutas por direitos humanos. Era clara em afirmar que não se trata de um conflito entre lados opostos, como os falastrões acusam para minimizar a questão."

Ela deixa 5 filhos e 12 netos.

Veja trecho do documentário "Memórias de uma mulher impossível":

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