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segunda-feira, janeiro 07, 2013

UMAS E OUTRAS


BARZINHO
O momento é previsível. O cantor ajeita o microfone, regula o amplificador e pega o violão. Vai desfilar um repertório que de início pouca gente vai ouvir, mas a participação de um improvisado coral vai se formando na mesma medida que aumenta o teor alcoólico de cada freguês.

CARDÁPIO
Não demorará muito e o nosso cantor vai acabar atendendo aos pedidos. Aliás, aqui o cardápio pode ser variado, mas há canções tão clássicas como o trio chope, batatas fritas e calabresa.

GÊNERO?
Ou seja: elas estão em todos os bares do país e muitos exagerados chegam a dizer que música de barzinho é um gênero dentro da MPB.

ANDANÇA
Vamos começar com a clássica das clássicas: 'Andança'. Basta iniciar os primeiros versos e em poucos segundos você terá companhia de um coral de quinhentas vozes: "Vim tanta areia andei; da lua cheia eu sei, uma saudade imensa; vagando em verso eu vim vestido de cetim; na mão direita rosas vou levar".

EMOÇÃO
E o botequeiros vibram e chegam a mostrar emoção etílica no contracanto: "Me leva amor! Por onde for quero ser seu par!".

FESTIVAL
A composição é de 1968 e foi feita pelo então jovem Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós na casa da ex-adolescente Beth Carvalho. Foi defendida pela própria Beth junto com os Golden Boys no 3º Festival Internacional da Canção.

VIOLA
O clássico "Viola enluarada", dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Vale, também é do mesmo ano. Tem versos ótimos para o cantor de bar mostrar seus dotes musicais em trechos como "A mão que toca um violão se preciso canta um hino, liberdaaaade!".

1968
O ano que não terminou -nos deu vários outros clássicos eternos de barzinhos como a panfletária "Caminhando (Pra não dizer que não falei de flores)" de Geraldo Vandré.

ÉBRIOS
Tem gente que canta ‘cão miando e cão cantando e seguindo a canção...”

EU JURO
A música que serviu de hino contra a repressão política hoje é até cantada em bailes de formatura.

MINAS
A música mineira tem participação cativa no repertório etílico. A mesma 'Travessia' que ajudou a revelar Milton Nascimento tem mostrado que é capaz de lançar no mercado botequinesco muitos outros aspirantes a uma vaga no Clube da Esquina. Até Sarah Vaughan e Joe Williams já fizeram travessia.

CORO
Quando o cantor e violonista inicia a indefectível abertura da canção, todos no bar já sabem: lá vem: "Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver...".

GUARABIRA
Quem também já emplacou diversos clássicos cervejeiros é a dupla Sá e Guarabira. É a responsável por 'Sobradinho' ('o sertão vai virar mar, mar do coração; com medo que o mar também vire sertão'); Dona (Dona desses traiçoeiros; sonhos sempre verdadeiros...) e...

ESPANHOLA
Essa última composição consegue revelar muitos cantores desafinados que tentam dar 'uma interpretação' pessoal na parte em que diz "Tem amo espanhooola! Te amo!). Ah! Não podemos esquecer também de "Caçador de Mim' (por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim...).

BAIANOS
Da Bahia temos 'Preta Pretinha' lançada pelos Novos Baianos no disco Acabou Chorare em 1972. O sucesso da música é compreensível: composição é facílima de se tocar no violão. Foi composta por Moraes Moreira e Luiz Galvão.

A BARCA
Esse último conta que a composição fala de um romance frustrado ocorrido com ele e que os versos surgiram dentro da barca que faz a ligação entre o Rio de Janeiro e Niterói.

PEPEU
Certa ocasião, quando esteve em Maringá, Moraes Moreira não se lembrava dessa origem de Preta Pretinha. É certo que enquanto corria a barca, a canção serviu para um anúncio de perfumaria.

GRANA
Com a grana dos direitos autorais, Galvão comprou um sítio. Poderia estar comprando diversas fazenda se até hoje ainda recebesse um centavo cada vez que Preta Pretinha é tocada nos barzinhos.

DISCOS
Sabendo desse filão, as gravadoras despejaram no mercado diversos discos com 'o melhor do som dos barzinhos'. A fórmula do sucesso foi gravar os discos com um cantor e violão junto com uma platéia de estúdio. Ou seja: quem não quer ir ao bar, improvisa um ambiente em casa.

MAS...
Bar é bar. Quando escasseia o repertório, sempre vai aparecer um chapado para gritar "Solto a voz nas estradas, já não quero parar...".

FLASHBACK
Interessante é que a maioria das canções é datada das décadas de 60 e 70. Temos ainda alguma coisa da década de 80, mas nem tudo vingou. Talvez um Tunai com seu maior sucesso, 'Frisson' (Vou caiu do céu, um lindo anjo apareceu com os pés fora do chão...). As mulheres se derretem com esses versos. Cazuza é outro que faz parte do show.

ROMARIA
Dentro do repertório rural, o país inteiro canta Romaria, de Renato Teixeira.

ENTÃO...
De sonho e de pó é o destino de quem enche a cara de cerveja. Sonha soluções fenomenais, fala com convicção de grandes projetos e se derrama em amores mal resolvidos.

SAIDEIRA
De bar em bar, alguma coisa acontece em cada coração.

Um comentário :

Benedito Ap. da Silva (Benê) disse...

Boas lembranças essas músicas, mas no meu tempo de boemia - anos 70 -, embora éramos de 21, 27, um amigos estudante e baterista de um conjunto carregava o violão no fusca e as músicas que cantava na mesa dos bares que íamos, eram do Nelson Gonçalves, Vinícius etc.