sábado, setembro 10, 2011
A Enguia
Eugênio Montale
(...)
“A enguia, a sereia
dos mares frios que deixa o Báltico
para chegar aos nossos mares,
aos nossos estuários, aos rios
que do fundo remonta, sob a maré adversa,
de ramo em ramo e depois
de delgado capilar em capilar
sempre mais dentro, mais no coração
do rochedo, filtrando
entre veios de lama até que um dia
desfrechada uma luz dos castanheiros
acende-lhe a faísca em poças de água morta,
nos fossos que conjugam
os vales apeninos à Romanha;
a enguia, tocha, látego,
flecha de Amor na terra,
que só as nossas furnas ou os ressequidos
riachos pirenaicos reconduzem
a paraísos de fecundação;
a alma verde que busca
vida onde somente
morde o ardor e a desolação,
a centelha que diz
tudo começa quando tudo parece
carbonizar-se, tronco sepultado;
a íris breve, gêmea
daquela que cravas entre os cílios
e fazes brilhar intacta em meio aos filhos
do homem, imersos no teu lodo, como podes
não crê-la tua irmã?”
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