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quinta-feira, março 04, 2010

"Fernão Capelo Gaivota".

Fernão Capelo é uma gaivota que não se limita a buscar alimento. Quer voar sempre melhor e cada vez mais alto.

Uma noite, as gaivotas que não praticavam o vôo noturno juntaram-se na praia, para pensar. Fernão reuniu toda a sua coragem e dirigiu-se à gaivota mais velha, que, segundo diziam, devia passar em breve para outro mundo.
- Chiang ... - começou ele, um pouco nervoso. A velha gaivota olhou-o com bondade.
- Diga, meu filho.
Em vez de enfraquecer, a idade dera força ao Mais Velho. Em vôo batia qualquer gaivota do bando, e aprendera perícias de que os outros só muito lenta e gradualmente começavam agora a aperceber-se.
- Chiang, este mundo não é o paraíso, é?
O mais velho sorriu ao luar:
- Você está aprendendo outra vez, Fernão Gaivota.
- Bem, e o que é que acontece depois disso? Para onde vamos?
Não há um lugar chamado paraíso?
- Não, Fernão, não há tal lugar. O paraíso não é um lugar nem um tempo. O paraíso é ser perfeito. - Ficou em silêncio durante um momento. - Você voa com muita velocidade, não voa?
- Eu ... Eu gosto da velocidade - respondeu Fernão, surpreendido mas orgulhoso de que o Mais Velho o tivesse notado.
- Você começará a se aproximar do paraíso, no momento em que alcançar a velocidade perfeita. E isso não é voar a mil e quinhentos quilômetros por hora, nem a um milhão e quinhentos mil, nem voar à velocidade da luz. Porque nenhum número é um limite, e a perfeição não tem limites. A velocidade perfeita, meu filho, é estar ali.
Sem avisar, Chiang evaporou-se e apareceu à borda da água, à distância de quinze metros, numa centelha de instante. Depois evaporou-se outra vez e surgiu ao lado de Fernão, no mesmo milésimo de segundo. - É divertido -comentou.
Fernão ficou atordoado. Esqueceu-se de fazer perguntas acerca do paraíso.
- Como é que se faz isso? O qué é que se sente? A que distância se pode ir?
- Desde que você o deseje, pode ir a qualquer lugar e a qualquer momento - disse-lhe o mais velho. - Que me lembre, já fui a todos os lugares e a todos os momentos. - Olhou o mar, pensativo. - É estranho ... As gaivotas que desprezam a perfeição por amor ao movimento não chegam a parte alguma, devagar. As que ignoram o movimento por amor à perfeição chegam a toda parte, instantaneamente. Lembre-se, Fernão, o paraíso não é um lugar nem um tempo, porque lugar e tempo não significam nada. O paraíso é ...
- Pode ensinar-me a voar assim?
Fernão Gaivota tremia de ansiedade por conquistar outro desconhecido.
- Claro, se você deseja aprender.
- Desejo, sim! Quando podemos começar?
- Se quiser, podemos começar já.
- Eu quero aprender a voar assim - disse Fernão, um brilho
estranho a iluminar-lhe os olhos. - Diga-me o que devo fazer.
Chiang falou devagar, observando cuidadosamente a gaivota mais nova.
- Para voar à velocidade do pensamento, para onde quer que seja, você deve começar por saber que já chegou ...
(Richard Bach)

Esse comentário do Balestra tinha que entrar aqui. Não podia ficar de fora. Confira:
Bulgarçom, a fábula do Fernão Capelo Gaivota é deliciosa. Você matou uma saudade minha agora... Quem a lê não esquece jamais. A li em meados de 75, então recém casado.

Tenho um exemplar em espanhol, cujo título é “Juan Salvador Gaviota – um relato”, adquirido em Assunção em 15.11.1980 (o ticket do caixa conservo até hj dentro do livro... rsrsrsr). Olha a introdução: "Al verdadero Juan Gaviota, que todos llevamos dentro".

O incentivo à força interior para a superação da vida que traz a alegoria do Fernão é simplesmente magistral. Richard Bach é de um talento incrível pra esse estilo de literatura. Os diálogos dele fluem com graça, e deixam marcas boas na gente. Eis um trechinho em espanhol aqui da versão que tenho, do exato que você transcreveu aí:

“...Una noche, las gaviotas que no estaban practicando vuelo nocturnos se quedaron em la arena, pensando. Juan echó mano de todo su coraje y se acercó a la Gaviota Mayor, de quien se decía iba pronto a trasladarse más allá de este mundo.
- Chiang... – dijo, um poco nervioso.
La vieja gaviota lé miró tiernamente.
- ¿Sí, hijo mió?
(...)”

Pode trazer a nota que tô saindo, Bulgarçom...
abs

(PS: O Bar do Bulga também tem uma edição em espanhol - Comprei num sebo e dei de presente para a Ana - hehehehe)

2 comentários :

josé roberto balestra disse...

Bulgarçom, a fábula do Fernão Capelo Gaivota é deliciosa. Você matou uma saudade minha agora... Quem a lê não esquece jamais. A li em meados de 75, então recém casado.

Tenho um exemplar em espanhol, cujo título é “Juan Salvador Gaviota – um relato”, adquirido em Assunção em 15.11.1980 (o ticket do caixa conservo até hj dentro do livro... rsrsrsr). Olha a introdução: "Al verdadero Juan Gaviota, que todos llevamos dentro".

O incentivo à força interior para a superação da vida que traz a alegoria do Fernão é simplesmente magistral. Richard Bach é de um talento incrível pra esse estilo de literatura. Os diálogos dele fluem com graça, e deixam marcas boas na gente. Eis um trechinho em espanhol aqui da versão que tenho, do exato que você transcreveu aí:

“...Una noche, las gaviotas que no estaban practicando vuelo nocturnos se quedaron em la arena, pensando. Juan echó mano de todo su coraje y se acercó a la Gaviota Mayor, de quien se decía iba pronto a trasladarse más allá de este mundo.
- Chiang... – dijo, um poco nervioso.
La vieja gaviota lé miró tiernamente.
- ¿Sí, hijo mió?
(...)”

Pode trazer a nota que tô saindo, Bulgarçom...
abs

Diana Pessoa disse...

ah! o fernão capelo gaivota, o li mais ou menos há uns 3 anos, quando tava entrando no mestrado... a profusão de ideias, a busca pela liberdade, a quebra de paradigmas instigada pelo fernão, cairam pra mim assim como uma luva perfeita para as mãos...o preço de ser diferente...desde entao adotei o pseudônimo de gaivota, sou professora universitária e em cada peimeiro dia de aula, eu explico aos meus alunos, o porquê de ser Diana Gaivota... kkk, abs forte!!!