Matéria Publicada na Revista Realidade – Março de 1976
Quando o motorista argentino Dionísio Llanca contou sua aventura, ninguém acreditou. Mas uma equipe de cientistas examinou-o durante 45 dias. E concluiu que ele não havia mentido.
Já passava da meia-noite quando Dionísio Llanca desligou a televisão e saiu da casa de seu tio Enrique Ruiz, em Bahía Blanca, no sul da Argentina. Caminhou oito quarteirões até onde deixara seu caminhão, carregado com materiais de construção. Decidira aproveitar aquela madrugada do dia 28 de outubro de 1973 para viajar até Río Gallegos, na província de Santa Cruz, mais ao sul, onde entregaria a carga do caminhão. Mas não completou essa viagem: uma hora depois, numa curva da Rota Nacional 3, a uns 19 quilômetros de Bahía Blanca, Dionísio foi sequestrado por um disco voador, que o abandonou depois, completamente desmemoriado, a 9 quilômetros dali.
O caso despertou o interesse de investigadores científicos. Uma equipe formada por médicos, psicólogos, psiquiatras e hipnólogos submeteu Dionísio Llanca a exaustivas séries de testes. Em várias sessões de hipnose e narconálise, ele sempre contou a mesma história.
Era 1h30 da madrugada quando parou seu caminhão no acostamento da estrada e desceu para examinar os pneus. Suspeitava de que um deles estivesse furado e esse receio se confirmou. Já estava colocando o macaco para trocar o pneu quando percebeu uma luz, um clarão amarelo sobre o pequeno bosque ao lado da estrada, junto a um córrego. Julgou de início que eram os faróis de iodo de um automóvel. Mas, de repente, a luz cresceu sobre a sua cabeça, iluminando as copas das árvores e resplandecendo sobre a superfície do córrego. Assustado, Dionísio largou suas ferramentas. E foi paralisado de assombro que avistou, a poucos metros de distância, três seres de aparência estranha. Vestiam macacões cinzentos colados ao corpo, luvas e botas alaranjadas. Tinham compridas cabeleiras ruivas, ombros muito largos e mais ou menos a mesma estatura: cerca de 1m85.
Dionísio não conseguiu esboçar qualquer gesto de defesa quando um dos seres se aproximou e picou o dedo indicador de sua mão direita com um aparelho, parecido com um barbeador elétrico. Nesse momento, o motorista de caminhão perdeu totalmente os sentidos e só voltou a si 48 horas depois, num leito do Hospital Municipal de Bahía Blanca.
Ainda no hospital, ele começou a recuperar a memória. Logo pode relembrar detalhes de seu fantástico sequestro. Seu caso apareceu nos jornais e, pouco depois, Dionísio era interrogado pela polícia. Acompanhado por um grupo de policiais, ele saiu à procura do caminhão, que foi encontrado no lugar que descrevera. Estava lá o pequeno bosque, o córrego e também os 150.000 pesos que ele dissera ter deixado no porta-luvas. A curiosidade em torno do caso aumentou. No dia 5 de novembro, Dionísio foi procurado por um grupo de cientistas e concordou em se submeter a qualquer prova para testar a veracidade de seu relato.
Durante 45 dias, sob rigoroso controle médico, Dionísio Llanca foi examinado. Em transe hipnótico, ele fez, a pedido, diversos desenhos mostrando o que vira naquela madrugada de 28 de outubro. Num deles aparece o seu caminhão e a luz amarelada, ainda distante. Em outro, a luz já aparece a uns 5 metros acima das árvores. Nesses desenhos, Dionísio registra um detalhe que viria a ter especial importância: um cabo de alta tensão que atravessa o pequeno bosque.
Nessas sessões de hipnose, Dionísio contou coisas que não conseguia lembrar quando estava consciente. Relatou, por exemplo, que, enquanto examinava os pneus do seu caminhão, um objeto de aparência metálica, com uns 7 metros de diâmetro, manteve-se flutuando no ar, sobre o bosque, como se estivesse observando toda a operação. Em determinado momento, esse aparelho lançou um facho de luz, pelo qual desceram os três seres, utilizando-o como se fosse uma rampa.
Também sob hipnose, a descrição do interior do disco foi muito clara. Dionísio contou que ele tinha formato oval, com um grande painel que cobria todo o diâmetro interno. Em frente a esse painel, sentado diante de uma mesa coberta de instrumentos, avistou, ao entrar, outro dos estranhos seres. Um quinto tripulante observava uma tela de cristal onde se via o céu estrelado. Dionísio descreveu em desenhos vários instrumentos semelhantes a televisores, onde apareciam estrelas coloridas. A única mulher da tripulação estava diante de uma das mesas de instrumentos e deu-lhe a impressão de funcionar como uma espécie de enfermeira.
Dionísio relembrou, sempre sob hipnose, que, ao ser levado para o disco voador, viu desprenderem-se dele duas mangueiras ou cabos flexíveis. Um deles mergulhou a extremidade na água do córrego e o outro encostou a extremidade no cabo de alta tensão que atravessa o bosque.
Não percebeu quando o aparelho levantou voo, levando-o. Lembra-se que a mulher tripulante começou a examiná-lo logo que ele entrou no disco. Contou também que ela trocou suas luvas alaranjadas por outras, pretas, com pequenas seringas nas palmas. Ao tentar colocar uma dessas luvas sobre a fronte de Dionísio, a mulher provocou-lhe um hematoma no supercílio direito.
Quando o exame terminou, o disco lançou novamente o facho de luz, usando-o para depositar suavemente sobre o solo o motorista de caminhão. Ele foi deixado a 9 quilômetros do lugar onde parara para examinar os pneus. Estava entre os vagões estacionados perto de uma estação ferroviária.
Grande parte do que Dionísio Llanca revelou sob hipnose pôde ser confirmado pelos peritos policiais que investigaram o caso. Ao ser devolvido ao solo pelo disco voador, ele encontrava-se totalmente amnésico. Não sabia seu nome, nem onde estava. Começou a caminhar e logo avistou uma cidade. Não reconheceu Bahía Blanca. Passou por um posto de gasolina. O empregado do posto declarou que o viu às 2h45 da madrugada. Dionísio havia permanecido durante pouco mais de uma hora dentro do disco voador.
Continuou caminhando pela estrada, completamente desorientado, até que o motorista de um automóvel levou-o a um posto policial. De lá foi levado a outro e pouco depois a um terceiro; pensavam que ele estava embriagado. Finalmente, às 7h30 da manhã, Dionísio foi levado ao Hospital Espanhol, em Bahía Blanca, onde foi recebido pela dra. Mabel Rosa Altaparro. Às 9 horas, chega o médico legista local, dr. Ricardo Smirnoff, examina Dionísio e ouve sua história, ainda confusa e incompleta, sobre as luzes no bosque e os três seres extraterrestres. Como não havia vaga no Hospital Espanhol, Dionísio foi levado para o Hospital Municipal, onde ficou até recuperar completamente a memória, 48 horas depois.
Julgando que os testes de hipnose eram insuficientes, a equipe de cientistas que examinou Dionísio Llanca resolveu submetê-lo a uma sessão de narcoanálise. Ele não fez qualquer objeção, ansioso por descobrir mais detalhes sobre tudo o que lhe acontecera. Confessou não estar certo de ter vivido uma realidade ou um sonho.
Foi dr. Ricardo Smirnoff que, como médico legista, acompanhou todos os testes feitos com Llanca, quem lhe injetou pentotal na veia. Sob o efeito dessa droga, o motorista de caminhão repetiu tudo o que havia contado nas sessões de hipnose. Não cometeu contradição alguma.
O grupo de cientistas que investigou o caso foi encabeçado pelos três responsáveis pelo setor de Bahía Blanca da ONIFE (Organização Nacional de Investigação de Fenômenos Espaciais), dr. Agustín Luccisano, professor da Universidade de La Plata e diplomado em Medicina Aeroespacial pela Universidade de Sorbonne; dr. Juan Antonio Pérez del Cerro, presidente da Associação Argentina de Ontoanálise; e dr. Hector A. Solari, psicanalista. Participaram também do grupo o dr. García Del Cerro, psicanalista; dr. Eduardo Mata, psiquiatra; dra. Nora Milano, psicóloga; e dr. Eládio Santos, hipnólogo da Universidade del Sur e professor adjunto da Universidade de Buenos Aires.
Dionísio Llanca foi submetido também a sucessivas baterias de testes para se avaliar a sua capacidade intelectual. Todos eles revelaram um nível de inteligência muito baixo. Segundo os doutores Hector Solari e Nora Milano, Dionísio é “incapaz de inventar e sustentar de forma coerente uma história tão complicada”.
Durante as diversas sessões de hipnose foi possível, sob a supervisão de dr. Eduardo Mata, reconstituir a aparência dos seres que sequestraram Dionísio. Eles teriam pele branca, olhos oblíquos e grandes, sobrancelhas muito juntas, boca e nariz bem delineados e cabelos ruivos caindo até os ombros. Suas orelhas seriam maiores do que o normal em seres humanos. (Essa discriminação coincide com as das velhas lendas indígenas dos Andes sobre a aparição de “seres ruivos de face resplandecente”.)
Informados a respeito do detalhe registrado por Dionísio Llanca nos desenhos em que mostra o aparecimento do disco voador — um cabo de alta tensão entre as árvores —, os engenheiros do Debax (Dirección de Energía de Buenos Aires) informaram que “no domingo, 28 de outubro de 1973, entre as 2 e as 3 horas da madrugada, subiu inexplicavelmente o consumo de energia elétrica em Bahía Blanca”.
A investigação sobre o caso ainda está em aberto. Certamente ainda há vários aspectos pouco claros, embora os que examinaram Dionísio Llanca sejam unânimes em afirmar que ele não mentiu, isto é: contou exatamente aquilo que julgou ser a verdade. Para aqueles que já estão convencidos da existência dos discos voadores e de seres extraterrenos, as provas do caso Llanca são definitivas. E, para os que não acreditam, demonstrar que elas são falsas será difícil, mas impossível.
Retrato falado dos tripulantes do disco, reconstituído por Dionísio:** tinham pele clara, mas seus olhos eram amendoados, como os orientais.
*Análise do Caso Dionísio Llanca: Um Clássico da Ufologia Argentina
O relato de Dionísio Llanca, publicado na revista *Realidade* em março de 1976, é um dos casos mais intrigantes da ufologia latino-americana. A história, investigada por uma equipe multidisciplinar de cientistas, apresenta elementos que desafiam explicações convencionais. Abaixo, uma análise crítica dos principais aspectos do caso:
. Credibilidade do Relato
- **Consistência sob hipnose e narcoanálise**: Llanca manteve a mesma narrativa em diferentes sessões de hipnose e sob o efeito de pentotal sódico (soro da verdade), o que sugere que ele acreditava genuinamente no que relatava.
- **Baixo nível intelectual**: Psicólogos e psiquiatras concluíram que Llanca não teria capacidade de inventar uma história tão complexa e coerente.
- **Corroboradores físicos**: Seu caminhão foi encontrado exatamente onde descreveu, com o dinheiro intacto no porta-luvas, reforçando sua credibilidade.
2. Evidências Anômalas*
- **Aumento inexplicável no consumo de energia**: Engenheiros confirmaram um pico de energia elétrica na região no momento do suposto avistamento, coincidindo com a descrição de Llanca sobre cabos conectados à rede de alta tensão.
- **Descrição detalhada dos seres**: Os extraterrestres foram descritos como humanoides altos, de cabelos ruivos, olhos grandes e oblíquos, características recorrentes em outros relatos ufológicos (como o caso Villas-Boas e o incidente de Varginha).
- **Tecnologia descrita**: O uso de luzes como "rampas", instrumentos semelhantes a telas de cristal e a suposta coleta de energia elétrica sugerem uma tecnologia avançada.
3. Possíveis Explicações**
- A consistência do relato, a falta de motivação para fraude e os detalhes técnicos (como o consumo de energia) sustentam a ideia de um encontro real com um objeto não identificado.
- A semelhança com lendas andinas sobre "seres ruivos de face resplandecente" pode indicar um possível registro histórico de fenômenos similares.
#### **Hipótese Psicológica/Psiquiátrica**
- **Amnésia dissociativa**: Llanca poderia ter sofrido um trauma (como um acidente ou assalto) e reconstruído a memória sob influência de cultura ufológica.
- **Alucinação induzida**: A luz amarelada poderia ser um fenômeno natural (como um raio globular) que desencadeou uma experiência de abdução por sugestão.
#### **Hipótese de Engano ou Fraude**
- Apesar de os especialistas descartarem que Llanca tenha mentido deliberadamente, não se pode ignorar a possibilidade de um embuste bem elaborado (embora improvável, dada sua avaliação psicológica
4. Comparação com Outros Casos**
- **Semelhanças com o Caso Villas-Boas (1957)**: Ambos envolvem seres humanoides, exames médicos a bordo de um UFO e descrição de tecnologia avançada.
- **Paralelos com o Caso Travis Walton (1975)**: Abdução seguida de amnésia e relatos sob hipnose consistentes.
5. Conclusão**
O caso Dionísio Llanca permanece sem uma explicação definitiva. A investigação científica rigorosa, a ausência de contradições e os indícios físicos (como o pico de energia) tornam-no um dos relatos mais convincentes da ufologia. No entanto, a falta de provas materiais incontestáveis (como marcas físicas no local ou resíduos metálicos) deixa margem para dúvidas.
Seja como experiência real, projeção psicológica ou fenômeno ainda não compreendido pela ciência, o caso continua a desafiar nossa compreensão do inexplicável.
**Classificação no espectro ufológico:** **Alto grau de estranheza, moderada credibilidade.**
**Referências:**
- Revista *Realidade*, março de 1976.
- Documentos da ONIFE (Organização Nacional de Investigação de Fenômenos Espaciais).
- Depoimentos médicos e policiais arquivados em Bahía Blanca, Argentina.
*(Esta análise baseia-se nos documentos disponíveis e não assume uma posição definitiva, mas explora as possibilidades dentro do rigor investigativo.)*