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sábado, maio 02, 2020

John Updike - Mondagem







Updike refere-se, neste poema, à ação de capinar, sachar, mondar, com a qual os garotos mais jovens, acostumados ao ambiente citadino, criados em apartamentos, jamais tiveram contato ou, talvez, jamais terão, tanto mais que muitos deles julgam que o trabalho manual tem algo de desqualificável: preferem, como na metáfora criada pelo apresentador Jô Soares, “capinar sentado”, para não verem o suor escorrer-lhes pela face.




Nos dias que correm, de qualquer maneira, a agricultura familiar – bastante presente lá pela metade do século passado –, foi sumariamente esquecida, entregando os pontos à agroindústria, que passou a dispor em nossas mesas todos os produtos agrícolas de que necessitamos. Mas é claro: nem sempre de forma saudável, em razão do uso disseminado de agrotóxicos.




J.A.R. – H.C.



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John Updike



(1932-2009)

Hoeing




I sometimes fear the younger generation will be deprived
of the pleasures of hoeing;
there is no knowing
how many souls have been formed by this simple exercise.

The dry earth like a great scab breaks, revealing
moist-dark loam –
the pea-root’s home,
a fertile wound perpetually healing.

How neatly the green weeds go under!
The blade chops the earth new.
Ignorant the wise boy who
has never performed this simple, stupid, and useful wonder.



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Mondagem



(Maggie Laubser: pintora sul-africana)

Mondagem




Às vezes temo que a geração mais jovem se veja privada
dos prazeres da mondagem;
não há como saber
quantas almas se formaram com este simples exercício.

A terra seca se rompe como uma grande crosta, revelando
a marga úmida e escura –
o lar da raiz da ervilheira,
uma ferida fértil que cicatriza perpetuamente.

Quão ordenadamente tombam as verdes ervas daninhas.
A lâmina revolve a terra intocada.
Indouto o sábio moço que
jamais realizou essa maravilha simples, primitiva e útil.

Referência:




UPDIKE, John. Hoeing. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 150.

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