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Carolina Maria de Jesus não foi uma cantora, embora neste disco ela seja a intérprete e compositora. Seu nome se destaca, mais exatamente, na literatura. Foi através da escrita, dos seus escritos, que ela se tornou conhecida mundialmente. Uma mulher negra, pobre que viveu na antiga e extinta favela paulista do Canindé, onde é hoje a Marginal do Tietê. Foi em 1960 que ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, ao fazer uma matéria sobre a favela. Ele viu ali uma mulher, que mesmo na sua humildade e pobreza, trazia dentro de si uma sensibilidade incomum. Ela gostava de escrever, compor em palavras escritas seu sentimento frente a dura realidade da vida na favela. Foi desse encontro que nasceu "Quarto de Despejo - Diário de uma favelada", um livro onde ela relata uma face da vida social e cultural brasileira no, então, grande centro urbano de São Paulo, quando este se expandia e se modernizava. Eu não li o livro e me baseio aqui em informações diversas colhidas na rede sobre ele. O fato é que a partir deste livro Carolina se tornaria conhecida internacionalmente. Sua obra foi publicada em mais de dez idiomas, se tornou um 'best seller' e também, pelo que percebo, um problema para o governo brasileiro e sua sociedade segregadora. Digo isso porque ao longo dos meus tantos anos de vida, só agora estou tomando conhecimento de sua existência. Não posso acreditar que no meio onde eu cresci e vivo, essa história não tenha chegado. Por certo que sim, mas de alguma forma, veladamente, me impediram de conhecê-la, ou eu fui mesmo relapso em minhas leituras. Mas, nada como o compartilhamento de informações, ideias e conteúdos. Graças à bendita tecnologia, à revolução digital, eu hoje e agora posso ter acesso ao que não tive e até passar para vocês. Com certeza, ainda vou ler esse livro!
Carolina, 'a escritora favelada', não ficou apenas no seu "Quarto de despejo". Pelo que vi, ela escreveu outros. Foram cinco livros, sendo um póstumo, lançado após a sua morte em 1977.
Como disse, por conta do primeiro ela se tornou conhecida e também, consequentemente acabou sendo intérprete de suas histórias, no cinema, em um filme rodado para a televisão alemã (até hoje inédito no Brasil) e neste disco, lançado em 1961 pela RCA Victor. Ao ouvir o lp é que tive a real noção do talento e capacidade desta mulher. Suas composições são autênticas e de muito boa qualidade, capaz de deixar muito compositor famoso no chinelo. Para que as suas músicas ganhassem mais teor (digamos, fonográfico), ela contou com o valioso apoio do Maestro Francisco Moraes nos arranjos e a direção artística de Júlio Nagib. Sem dúvida, um belíssimo trabalho, recheado de sambas, marchas rancho, xote, canção e até uma valsinha. Tem que ouvir...
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