sexta-feira, agosto 31, 2012
quarta-feira, agosto 29, 2012
Nas Bancas
Adquiri hoje 101 Filmes - Tesouros Perdidos, de Ricardo Matsumoto e Roberto Pujol, publicação da revista Preview, em parceria com a editora Nova Sampa. O primeiro livro da Preview (revista mensal de cinema) tem a pretensão de apresentar produções desconhecidas por muita gente grande parte do público. Aqui encontrei As Sete Máscaras da Morte, Nasce um Monstro, Quando Chega a Escuridão, Terror Cego e outras pepitas. Muitos, na verdade, não são tão desconhecidos perante ao cinéfilo antenado. Incluiram até classicos como A Filha de Ryan e pequenas obras-primas com Fantasma do Paraíso. O livrinho tem 132 páginas e sai por R$ 19,90.
Lukas, o cartunista - Um ano sem ele
segunda-feira, agosto 27, 2012
Conheço um lugar...
domingo, agosto 26, 2012
Botafogo das antigas...
Botafogo 1916 |
Botafogo e San Cristovam 1922 maio Rev Careta |
botafogo e Flamengo 1916 - republicado em A Cigarra 1955 |
!916 e novembro Bota e Flu |
Bota bi - Revista Mundo ilustrado 1962 |
Bota bi - Revista Mundo ilustrado 1962 |
sábado, agosto 25, 2012
Baloon !!!
Propaganda indevida
imagem: Som Mutante |
Já tentei de tudo, mas a culpa é do Google. Se pelo menos rendesse algum trocado...
Bom final de Semana!
Lazy Day,written by George Fischoff and Tony Powers, was sung by Spanky And Our Gang, a folk rock group from Central Illinois. In 1967 it went to number 14 on the pop charts.
quinta-feira, agosto 23, 2012
Nelson Falcão Rodrigues
Nelson Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foi um importante dramaturgo, jornalista eescritor brasileiro, tido como o mais influente dramaturgo do Brasil.
Nascido no Recife, Pernambuco, no ano de 1912, mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro. Quando maior, trabalhou no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado, que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso mesmo veio com Vestido de Noiva, que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista em nossos palcos. A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem taxadas muitas vezes como obscenas e imorais. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol. Veio a falecer em 1980, no Rio de Janeiro.
Em 2012, o dramaturgo completaria 100 anos hoje.
Entrevista concedida a Veja (13/03/1974), a Roberto Marinho de Azevedo, ao lançar a peça O Anti-Nélson Rodrigues.
Veja - Por que o tíítulo O Anti-Nélson Rodrigues?
NÉLSON RODRIGUES - Minha carreira no teatro tem sido um esforço para contrariar minha imagem tradicional. Disse o poeta Rainer Maria Rilke que a celebridade é a soma
de mal-entendidos criados e recriados em torno de uma pessoa e de sua obra. Entendo que sou uma vítima de equívocos. Talvez um outro equívoco seja o título O
Anti-Nélson Rodrigues. Desta vez, creio que mostro um ângulo de minha personalidade que ninguém reconhece. Ou que poucos reconhecem.
Veja - E qual é este ângulo?
NÉLSON RODRIGUES - Uma profunda e inconsolável nostalgia da pureza. Eu digo pureza em todos os sentidos. Inclusive a física. Por exemplo: eu acredito na virgindade.
Acho e sempre achei que a virgindade pode ter o sentido de uma doação ao ser amado. É perfeitamente idiota achar que ser ou não ser virgem seja um fato físico. Pode ser
físico para os gatos de telhado e as cadelas de esquina, mas não para o ser humano. Acredito, inclusive, que o homem seria menos infeliz, menos sofrido, menos marcado,
se o mundo levasse a sério a virgindade masculina. Lembro-me de um senhor ilustre que, em discurso, fazia, não uma declaração de bens, mas uma declaração de
costumes: Eu me casei virgem. Acho perfeitamente cabível que o homem se case virgem.
Veja - Mas, voltando à peça...
NÉLSON RODRIGUES - Ela mostra de uma maneira mais sensível uma coisa que existe em todo meu teatro: uma imensa compaixão por meus personagens. Muitas vezes,
fazendo uma peça, num momento de crueldade eu vacilo e tenho vontade de amenizar a violência de certas situações. Mas a verdade é que escrevo, não para negar as
atrocidades da vida, mas para ter pena - e pena da cabeça aos pés - por todos que matam e por todos que se matam, pelos homicidas e pelos suicidas. Isto está presente e
visível em O Anti-Nélson Rodrigues.
Veja - Qual foi sua sensação de voltar a escrever para o teatro?
NELSON - Eu queria fazer O Anti-Nélson Rodrigues. Mas, diante da peça viva, desencadeada no palco, sinto que devo ser Nélson Rodrigues até o fim.
Veja - O que é que isto quer dizer?
NÉLSON RODRIGUES - A peça sou eu mesmo. Me deixa uma certa perplexidade constatar que sou fiel a tudo que já fiz e que pertence á minha vida. A vida de todo o
mundo. A personagem Teresa, esta pobre espantosa senhora*, como se parece com as senhoras da vida real! É a mãe devoradora, mutiladora em seu amor assassino. Eu a
sinto como a mãe geral, a mãe do Dia das Mães, a mãe do ano.
Veja - Sua mãe era assim?
NÉLSON RODRIGUES - Digo isso e, ao mesmo tempo, penso em minha mãe, tão diferente. Tão absurdamente boa, solidária, irmã. Meiga, prostrada em adoração.
Realmente, nem todas as mães são assim, mas as mães que não são assim constituem uma seletíssima minoria. É uma em dez mil. Uma em vinte mil. E Gastão, o pai,
odiado por seu filho e marcado pela obsessão da morte, não tem medo da morte. Pelo contrário, a deseja. Não conheço nada mais falso do que o instinto de conservação. É
um instinto que Deus negou ao homem. Na verdade, cada um de nós vive criando pretextos para morrer. O cigarro que se fuma, a cerveja que se bebe, que é isso, senão a
nostalgia da morte? O homem é triste, não porque morre, mas porque vive. * Teresa (interpretada pela atriz Sônia Oiticica) é a mãe pela qual Oswaldinho (José Wilker) tem
desejos incestuosos ao mesmo tempo que vota um ódio cansativo ao seu pai, o milionário Gastão (Nelson Dantas). Por outro lado, Oswaldinho persegue Joice (Neila
Tavares), uma recatada donzela suburbana, filha de Salim Simão (Paulo César Peréio). Ela acaba se entregando a Oswaldinho por amor e não pelos 350 000 cruzeiros
oferecidos.
Veja - Quanto tempo levou para escrever O Anti-Nélson Rodrigues?
NÉLSON RODRIGUES - Um mês.
Veja - E foi fácil?
NÉLSON RODRIGUES- A peça já estava dentro de mim. Eu só começo a escrever uma peça quando a tenho na carne e na alma.
Veja - Que foi que fez o senhor voltar a escrever para o teatro?
NÉLSON RODRIGUES - Primeiro foi uma jovem atriz - Neila Tavares que eu chamo - ponha aspas - Minha Duse. Começou a me perseguir. Queria uma peça porque queria. E
a peça tinha que ser de Nélson Rodrigues. Eu tinha a peça nas minhas entranhas. Só faltava escrevê-la. O trabalho mais simples foi a execução.
Veja - O que o senhor achou da encenação?
NÉLSON RODRIGUES - Achei Paulo César Peréio, o diretor, um homem de extrema sensibilidade e imaginação. A maioria absoluta dos novos diretores brasileiros imita os
defeitos de José Celso Martinez Corrêa. José Celso imita, também, os próprios defeitos. Por isso são raros os que têm criação própria, como Antunes Filho e, agora, Paulo
César de Campos Velho, que nós chamamos de Peréio. Ele salvou-se de José Celso.
Veja - Fez falta passar oito anos sem escrever para o teatro?
NÉLSON RODRIGUES - Fez uma falta desesperadora.
Veja - E por que não escrevia? A gente de teatro não o procurava?
NÉLSON RODRIGUES - Todos me procuravam. Por fim, instalou-se nos meios teatrais esta falsa verdade: eu não voltaria mais ao teatro. A verdade é que tenho mil projetos
dramáticos. Se pudesse, faria uma peça por dia.
Veja - É verdade que o senhor está pensando em escrever uma peça de nove atos? Qual seria o tema?
NÉLSON RODRIGUES - Estou apaixonado por essa idéia. Seria uma peça feita com a memória do autor. Profunda, desesperadamente autobiográfica. Resta saber se tenho
pureza bastante para escrevê-la.
Veja - Por que pureza?
NÉLSON RODRIGUES - Digo pureza porque uma confissão plena, integral, exige um santo.
Veja - Seu recesso teatral não foi motivado por um certo boicote?
NÉLSON RODRIGUES - Não foi bem isso. Durante cerca de vinte anos, fui o único autor obsceno do Brasil. Os atores me representavam com o maior desprezo e
ressentimento. Faziam uma concessão ao meu nome, que supunham importante. A minha peça Senhora dos Afogados. por exemplo, foi ensaiada durante um mês no Teatro
Brasileiro de Comédia. Diga-se de passagem que o TBC foi o maior mistificador do teatro brasileiro. Tinha horror de nossos autores, não fez absolutamente nada por nossa
dramaturgia. O problema do TBC era um só: bilheteria. No fim de um mês de ensaios, dirigidos por Ziembinsky, a grande atriz Cacilda Becker, minha amiga pessoal,
declarou: Eu não faço esta peça. Digo isto com absoluta ternura e admiração pela sua memória. Mas é um fato histórico que pode e deve ser contado. E assim, Senhora dos
Afogados foi expulsa do TBC com grande vantagem para a peça.
Veja - Quando falei de boicote não estava pensando no TBC. Não houve, ou há, uma certa má vontade dos diretores mais jovens para consigo?
NÉLSON RODRIGUES - O que há é o seguinte: umas cinco peças minhas foram levadas em São Paulo por cinco diretores novos. Foi um massacre teatral. Fui
incompreendido, como se escrevesse em chinês de cabeça para baixo. Antunes Filho é que iniciou um novo período para minhas peças no teatro paulista.
Veja - Há uma crise no teatro brasileiro?
NÉLSON RODRIGUES - O que há é que Marx e Brecht realmente cretinizaram toda uma geração de diretores, atores e autores brasileiros. Evidentemente não são todos.
Mas é uma sólida e abundantíssima maioria.
Veja - Que considera o senhor um reacionário?
NÉLSON RODRIGUES - Muitos me chamam de reacionário. É exatamente o que sou: um reacionário. Já disse na televisão - e, portanto, para 1 milhão de pessoas - que sou
reacionário. Reacionário porque não tenho nada de estalinista.
Veja - Mas, além de não ser estalinista, o que é ser reacionário?
NÉLSON RODRIGUES - Faço este comentário sabendo que reacionário - sublinhe a palavra - é o termo mais sujo, mais corrompido, mais idiota... Reacionária, de fato, seria
a Rússia, que assassinou todas as liberdades e matou a pauladas 90 milhões de sujeitos desde 1917. A Rússia que enfia nos hospícios os intelectuais vagamente
dissidentes. Ou a China, cuja Revolução Cultural acha a música de Beethoven capitalista. Portanto, como não sou estalinista, acho justo que me chamem de reacionário e
que eu próprio me confesse reacionário. Tanto mais que acho a liberdade mais importante do que o pão.
Veja - O que acha o senhor do momentoso assunto da volta dos anjos, que Veja tem destacado em alguns de seus últimos números?
NÉLSON RODRIGUES - Sou a favor dos anjos. Acredito que tenho o meu anjo da guarda e creio plenamente na proteção que ele me assegura.
Veja - Pesquisas e estudos recentes, nos Estados Unidos e na Inglaterra, têm indicado a possibilidade de novos tempos para o homem, graças `às fórmulas de combate ao Mal apresentadas pelo monge Falcus. O senhor crê nelas?
NÉLSON RODRIGUES - Sou um homem de absoluta fé e de uma credulidade infinita. Torço pela viabilidade dessas fórmulas salvadoras.
Veja - Foi o senhor que introduziu o palavrão no teatro brasileiro?
NELSON - Fui. Só que eu não fazia o palavrão gratuito, do som pelo som. O outro era chamado nome feio e tinha maior justificativa psicológica e poética.
Veja - Qual era seu valor literário?
NELSON - O valor do palavrão... conseguiram degradá-lo. Havia, antes, uma certa cerimônia, uma certa compostura entre o palavrão e o brasileiro. Agora, meninas de doze anos, até mesmo dez, dizem palavras que fariam corar Bocage.
Veja - O que o senhor sente não será uma nostalgia do pecado? Da coisa proibida?
NÉLSON RODRIGUES - Eu tenho uma profunda nostalgia do velho palavrão. Quando percebi que as mulheres começavam a dizer palavrões, eu me tornei na vida real o
homem mais antipornográfico do Brasil. Eu não digo mais palavrões.
Veja - Por que?
NÉLSON RODRIGUES - Tiraram a dignidade e o dramatismo do palavrão.
Veja - O senhor declarou, há pouco tempo, em uma entrevista, que, quando há amor, o sexo só atrapalha. Na mesma entrevista, disse que só concebe o sexo havendo
amor. Não haverá uma contradição nisso?
NÉLSON RODRIGUES - O sexo atrapalha, mas isso não quer dizer que ele impeça. Não há problema. O homem só começa a ser homem depois dos instintos e contra os
instintos. Ou ignorando-os, ou tomando uma posição contra. Até hoje eu não sei por que os temos, por que os toleramos.
Veja - E que há de mal com eles?
NÉLSON RODRIGUES - Eles são próprios de cães de rua, de gatos de telhado, de preás, de bezerras...
Veja - De gente não?
NÉLSON RODRIGUES - Não. O homem não deseja uma mulher só pelo fato de ele ser homem e de ela ser mulher. Mas porque há entre ele e ela uma série de afinidades.
Há uma escolha. Mas para o cachorro, na hora do cio, qualquer cachorra serve. Nada é mais absurdo do que a educação sexual. Ela só tem sentido se os alunos fossem
gatos, preás, bezerros e vacas premiadas. Para o ser humano se deve dar educação para o amor. Mas falar em sexo, sem uma palavra sobre amor, é de uma mistificação e
de uma burrice inomináveis.
Veja - E castidade? Ultimamente o senhor tem falado muito nela.
NÉLSON RODRIGUES - É absolutamente impossível a satisfação sexual. A atividade sexual só leva ao desespero, á angústia, á procura de algo que jamais será encontrado.
Veja - E o senhor não vê nela nenhum prazer?
NÉLSON RODRIGUES - Há prazer. Mas não há satisfação. O sujeito continua cada vez mais insatisfeito. O desejo é triste.
Veja - O jeito, então, seria ignorar o desejo?
NÉLSON RODRIGUES - Seria. A única coisa que pode pacificar o sexo é o amor.
Veja - O senhor disse que a tragédia não é morrer, mas estar vivo. A vida, então, não tem jeito? NELSON - Só tem jeito pelo amor. A única solução vital é o amor. O homem
que ama é eterno, porque seu amor continua para além da vida e para além da morte.
Veja - O senhor fala, às vezes, de seus inimigos íntimos. Quais são os principais?
NÉLSON RODRIGUES - Eu nunca falei de inimigos íntimos. É uma expressão muito convencional. Falo, sim, de irmãos íntimos. Você sabe que os irmãos são sempre
íntimos. E falo, também, do desconhecido íntimo. É o sujeito que eu encontro na rua e que me chama de Nosso Nélson...
Veja - O que quer dizer que o senhor não tem inimigos?
NÉLSON RODRIGUES - Me recuso a ter inimigos. Acho que o ódio de um homem para com outro homem cria entre eles uma relação, uma dependência homossexual.
Veja - O senhor não sente uma certa saudade de quando era escritor maldito?
NÉLSON RODRIGUES - Mas, meu bem, eu continuo sendo um autor maldito. Ninguém é menos oficial do que eu. Não sei o que é a glória, porque nunca provei de seu mel.
Sou contestado pelos imbecis de todas as tendências.
Veja - Há futuro para o teatro no Brasil?
NÉLSON RODRIGUES - Acho que nossos dramaturgos têm que trabalhar. Façam peças. O futuro do teatro brasileiro é o trabalho de seus autores. Só assim teremos um
repertório nacional.
Veja - Repito a pergunta: há futuro?
NÉLSON RODRIGUES - O negócio deles é Marx, José Celso, Brecht e politização.
Veja - Política em vez de teatro?
NÉLSON RODRIGUES - É todo mundo preocupado com o Terceiro Mundo. São todos alienados. Nas passeatas, que foi um momento sublime do ridículo, falavam de tudo,
menos do Brasil. Nunca um negro entrou numa passeata. Era o filho da alta burguesia, filho das classes dominantes fazendo uma brincadeira ideológica.
Veja - O senhor diz que só há sentimentos profundos nos subúrbios, na zona norte. Isso não faz parte do Terceiro Mundo?
NÉLSON RODRIGUES - Eu sou um homem que só se interessa pelo Brasil. O Terceiro Mundo só me dá tédio. A fome da África não me interessa. Só a nossa.
Veja - Por falar em Brasil: como vai ele?
NÉLSON RODRIGUES - Acho que está formidável. Começou, finalmente, o nosso desenvolvimento. Quem não vê isso nega a evidência objetiva e até espetacular.
VESTIDO DE NOIVA
(...) " Madame Clessi
Quer falar comigo?
Alaíde ( aproximando-se, fascinada )
Quero, sim. Queria...
Madame Clessi
Vou botar um disco. ( Dirige-se para a invisível vitrola, com Alaíde atrás )
Alaíde
A senhora não morreu?
Madame Clessi
Vou botar um samba. Esse aqui não é muito bom. Mas vai assim mesmo. ( Samba surdinando ) Está vendo como estou gorda, velha, cheia de varizes e de dinheiro?
Alaíde
Li o seu diário.
Madame Clessi ( cética )
Leu? Duvido! Onde?
Alaíde ( afirmativa )
Li, sim. Quero morrer agora mesmo, se não é verdade!
Madame Clessi
Então diga como é que começa. ( Clessi fala de costas para Alaíde )
Alaíde ( recordando )
Quer ver? É assim... ( Ligeira pausa ) "Ontem, fui com Paulo a Paineiras"... ( feliz )É assim que começa.
Madame Clessi ( evocativa )
Assim mesmo. É.
Alaíde ( perturbada )
Não sei como a senhora pôde escrever aquilo! Como teve coragem! Eu não tinha!
Madame Clessi ( à vontade )
Mas não é só aquilo. Tem outras coisas.
Alaíde ( excitada )
Eu sei. Tem muito mais. Fiquei!... ( Inquieta ) Meu Deus! Não sei o que é que eu tenho. É uma coisa – não sei. Por que é que eu estou aqui?
Madame Clessi
É a mim que você pergunta?"
(...)
RODRIGUES Nélson. Teatro Completo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981, pág. 114
Em 2012, o dramaturgo completaria 100 anos hoje.
Entrevista concedida a Veja (13/03/1974), a Roberto Marinho de Azevedo, ao lançar a peça O Anti-Nélson Rodrigues.
Veja - Por que o tíítulo O Anti-Nélson Rodrigues?
NÉLSON RODRIGUES - Minha carreira no teatro tem sido um esforço para contrariar minha imagem tradicional. Disse o poeta Rainer Maria Rilke que a celebridade é a soma
de mal-entendidos criados e recriados em torno de uma pessoa e de sua obra. Entendo que sou uma vítima de equívocos. Talvez um outro equívoco seja o título O
Anti-Nélson Rodrigues. Desta vez, creio que mostro um ângulo de minha personalidade que ninguém reconhece. Ou que poucos reconhecem.
Veja - E qual é este ângulo?
NÉLSON RODRIGUES - Uma profunda e inconsolável nostalgia da pureza. Eu digo pureza em todos os sentidos. Inclusive a física. Por exemplo: eu acredito na virgindade.
Acho e sempre achei que a virgindade pode ter o sentido de uma doação ao ser amado. É perfeitamente idiota achar que ser ou não ser virgem seja um fato físico. Pode ser
físico para os gatos de telhado e as cadelas de esquina, mas não para o ser humano. Acredito, inclusive, que o homem seria menos infeliz, menos sofrido, menos marcado,
se o mundo levasse a sério a virgindade masculina. Lembro-me de um senhor ilustre que, em discurso, fazia, não uma declaração de bens, mas uma declaração de
costumes: Eu me casei virgem. Acho perfeitamente cabível que o homem se case virgem.
Veja - Mas, voltando à peça...
NÉLSON RODRIGUES - Ela mostra de uma maneira mais sensível uma coisa que existe em todo meu teatro: uma imensa compaixão por meus personagens. Muitas vezes,
fazendo uma peça, num momento de crueldade eu vacilo e tenho vontade de amenizar a violência de certas situações. Mas a verdade é que escrevo, não para negar as
atrocidades da vida, mas para ter pena - e pena da cabeça aos pés - por todos que matam e por todos que se matam, pelos homicidas e pelos suicidas. Isto está presente e
visível em O Anti-Nélson Rodrigues.
Veja - Qual foi sua sensação de voltar a escrever para o teatro?
NELSON - Eu queria fazer O Anti-Nélson Rodrigues. Mas, diante da peça viva, desencadeada no palco, sinto que devo ser Nélson Rodrigues até o fim.
Veja - O que é que isto quer dizer?
NÉLSON RODRIGUES - A peça sou eu mesmo. Me deixa uma certa perplexidade constatar que sou fiel a tudo que já fiz e que pertence á minha vida. A vida de todo o
mundo. A personagem Teresa, esta pobre espantosa senhora*, como se parece com as senhoras da vida real! É a mãe devoradora, mutiladora em seu amor assassino. Eu a
sinto como a mãe geral, a mãe do Dia das Mães, a mãe do ano.
Veja - Sua mãe era assim?
NÉLSON RODRIGUES - Digo isso e, ao mesmo tempo, penso em minha mãe, tão diferente. Tão absurdamente boa, solidária, irmã. Meiga, prostrada em adoração.
Realmente, nem todas as mães são assim, mas as mães que não são assim constituem uma seletíssima minoria. É uma em dez mil. Uma em vinte mil. E Gastão, o pai,
odiado por seu filho e marcado pela obsessão da morte, não tem medo da morte. Pelo contrário, a deseja. Não conheço nada mais falso do que o instinto de conservação. É
um instinto que Deus negou ao homem. Na verdade, cada um de nós vive criando pretextos para morrer. O cigarro que se fuma, a cerveja que se bebe, que é isso, senão a
nostalgia da morte? O homem é triste, não porque morre, mas porque vive. * Teresa (interpretada pela atriz Sônia Oiticica) é a mãe pela qual Oswaldinho (José Wilker) tem
desejos incestuosos ao mesmo tempo que vota um ódio cansativo ao seu pai, o milionário Gastão (Nelson Dantas). Por outro lado, Oswaldinho persegue Joice (Neila
Tavares), uma recatada donzela suburbana, filha de Salim Simão (Paulo César Peréio). Ela acaba se entregando a Oswaldinho por amor e não pelos 350 000 cruzeiros
oferecidos.
Veja - Quanto tempo levou para escrever O Anti-Nélson Rodrigues?
NÉLSON RODRIGUES - Um mês.
Veja - E foi fácil?
NÉLSON RODRIGUES- A peça já estava dentro de mim. Eu só começo a escrever uma peça quando a tenho na carne e na alma.
Veja - Que foi que fez o senhor voltar a escrever para o teatro?
NÉLSON RODRIGUES - Primeiro foi uma jovem atriz - Neila Tavares que eu chamo - ponha aspas - Minha Duse. Começou a me perseguir. Queria uma peça porque queria. E
a peça tinha que ser de Nélson Rodrigues. Eu tinha a peça nas minhas entranhas. Só faltava escrevê-la. O trabalho mais simples foi a execução.
Veja - O que o senhor achou da encenação?
NÉLSON RODRIGUES - Achei Paulo César Peréio, o diretor, um homem de extrema sensibilidade e imaginação. A maioria absoluta dos novos diretores brasileiros imita os
defeitos de José Celso Martinez Corrêa. José Celso imita, também, os próprios defeitos. Por isso são raros os que têm criação própria, como Antunes Filho e, agora, Paulo
César de Campos Velho, que nós chamamos de Peréio. Ele salvou-se de José Celso.
Veja - Fez falta passar oito anos sem escrever para o teatro?
NÉLSON RODRIGUES - Fez uma falta desesperadora.
Veja - E por que não escrevia? A gente de teatro não o procurava?
NÉLSON RODRIGUES - Todos me procuravam. Por fim, instalou-se nos meios teatrais esta falsa verdade: eu não voltaria mais ao teatro. A verdade é que tenho mil projetos
dramáticos. Se pudesse, faria uma peça por dia.
Veja - É verdade que o senhor está pensando em escrever uma peça de nove atos? Qual seria o tema?
NÉLSON RODRIGUES - Estou apaixonado por essa idéia. Seria uma peça feita com a memória do autor. Profunda, desesperadamente autobiográfica. Resta saber se tenho
pureza bastante para escrevê-la.
Veja - Por que pureza?
NÉLSON RODRIGUES - Digo pureza porque uma confissão plena, integral, exige um santo.
Veja - Seu recesso teatral não foi motivado por um certo boicote?
NÉLSON RODRIGUES - Não foi bem isso. Durante cerca de vinte anos, fui o único autor obsceno do Brasil. Os atores me representavam com o maior desprezo e
ressentimento. Faziam uma concessão ao meu nome, que supunham importante. A minha peça Senhora dos Afogados. por exemplo, foi ensaiada durante um mês no Teatro
Brasileiro de Comédia. Diga-se de passagem que o TBC foi o maior mistificador do teatro brasileiro. Tinha horror de nossos autores, não fez absolutamente nada por nossa
dramaturgia. O problema do TBC era um só: bilheteria. No fim de um mês de ensaios, dirigidos por Ziembinsky, a grande atriz Cacilda Becker, minha amiga pessoal,
declarou: Eu não faço esta peça. Digo isto com absoluta ternura e admiração pela sua memória. Mas é um fato histórico que pode e deve ser contado. E assim, Senhora dos
Afogados foi expulsa do TBC com grande vantagem para a peça.
Veja - Quando falei de boicote não estava pensando no TBC. Não houve, ou há, uma certa má vontade dos diretores mais jovens para consigo?
NÉLSON RODRIGUES - O que há é o seguinte: umas cinco peças minhas foram levadas em São Paulo por cinco diretores novos. Foi um massacre teatral. Fui
incompreendido, como se escrevesse em chinês de cabeça para baixo. Antunes Filho é que iniciou um novo período para minhas peças no teatro paulista.
Veja - Há uma crise no teatro brasileiro?
NÉLSON RODRIGUES - O que há é que Marx e Brecht realmente cretinizaram toda uma geração de diretores, atores e autores brasileiros. Evidentemente não são todos.
Mas é uma sólida e abundantíssima maioria.
Veja - Que considera o senhor um reacionário?
NÉLSON RODRIGUES - Muitos me chamam de reacionário. É exatamente o que sou: um reacionário. Já disse na televisão - e, portanto, para 1 milhão de pessoas - que sou
reacionário. Reacionário porque não tenho nada de estalinista.
Veja - Mas, além de não ser estalinista, o que é ser reacionário?
NÉLSON RODRIGUES - Faço este comentário sabendo que reacionário - sublinhe a palavra - é o termo mais sujo, mais corrompido, mais idiota... Reacionária, de fato, seria
a Rússia, que assassinou todas as liberdades e matou a pauladas 90 milhões de sujeitos desde 1917. A Rússia que enfia nos hospícios os intelectuais vagamente
dissidentes. Ou a China, cuja Revolução Cultural acha a música de Beethoven capitalista. Portanto, como não sou estalinista, acho justo que me chamem de reacionário e
que eu próprio me confesse reacionário. Tanto mais que acho a liberdade mais importante do que o pão.
Veja - O que acha o senhor do momentoso assunto da volta dos anjos, que Veja tem destacado em alguns de seus últimos números?
NÉLSON RODRIGUES - Sou a favor dos anjos. Acredito que tenho o meu anjo da guarda e creio plenamente na proteção que ele me assegura.
Veja - Pesquisas e estudos recentes, nos Estados Unidos e na Inglaterra, têm indicado a possibilidade de novos tempos para o homem, graças `às fórmulas de combate ao Mal apresentadas pelo monge Falcus. O senhor crê nelas?
NÉLSON RODRIGUES - Sou um homem de absoluta fé e de uma credulidade infinita. Torço pela viabilidade dessas fórmulas salvadoras.
Veja - Foi o senhor que introduziu o palavrão no teatro brasileiro?
NELSON - Fui. Só que eu não fazia o palavrão gratuito, do som pelo som. O outro era chamado nome feio e tinha maior justificativa psicológica e poética.
Veja - Qual era seu valor literário?
NELSON - O valor do palavrão... conseguiram degradá-lo. Havia, antes, uma certa cerimônia, uma certa compostura entre o palavrão e o brasileiro. Agora, meninas de doze anos, até mesmo dez, dizem palavras que fariam corar Bocage.
Veja - O que o senhor sente não será uma nostalgia do pecado? Da coisa proibida?
NÉLSON RODRIGUES - Eu tenho uma profunda nostalgia do velho palavrão. Quando percebi que as mulheres começavam a dizer palavrões, eu me tornei na vida real o
homem mais antipornográfico do Brasil. Eu não digo mais palavrões.
Veja - Por que?
NÉLSON RODRIGUES - Tiraram a dignidade e o dramatismo do palavrão.
Veja - O senhor declarou, há pouco tempo, em uma entrevista, que, quando há amor, o sexo só atrapalha. Na mesma entrevista, disse que só concebe o sexo havendo
amor. Não haverá uma contradição nisso?
NÉLSON RODRIGUES - O sexo atrapalha, mas isso não quer dizer que ele impeça. Não há problema. O homem só começa a ser homem depois dos instintos e contra os
instintos. Ou ignorando-os, ou tomando uma posição contra. Até hoje eu não sei por que os temos, por que os toleramos.
Veja - E que há de mal com eles?
NÉLSON RODRIGUES - Eles são próprios de cães de rua, de gatos de telhado, de preás, de bezerras...
Veja - De gente não?
NÉLSON RODRIGUES - Não. O homem não deseja uma mulher só pelo fato de ele ser homem e de ela ser mulher. Mas porque há entre ele e ela uma série de afinidades.
Há uma escolha. Mas para o cachorro, na hora do cio, qualquer cachorra serve. Nada é mais absurdo do que a educação sexual. Ela só tem sentido se os alunos fossem
gatos, preás, bezerros e vacas premiadas. Para o ser humano se deve dar educação para o amor. Mas falar em sexo, sem uma palavra sobre amor, é de uma mistificação e
de uma burrice inomináveis.
Veja - E castidade? Ultimamente o senhor tem falado muito nela.
NÉLSON RODRIGUES - É absolutamente impossível a satisfação sexual. A atividade sexual só leva ao desespero, á angústia, á procura de algo que jamais será encontrado.
Veja - E o senhor não vê nela nenhum prazer?
NÉLSON RODRIGUES - Há prazer. Mas não há satisfação. O sujeito continua cada vez mais insatisfeito. O desejo é triste.
Veja - O jeito, então, seria ignorar o desejo?
NÉLSON RODRIGUES - Seria. A única coisa que pode pacificar o sexo é o amor.
Veja - O senhor disse que a tragédia não é morrer, mas estar vivo. A vida, então, não tem jeito? NELSON - Só tem jeito pelo amor. A única solução vital é o amor. O homem
que ama é eterno, porque seu amor continua para além da vida e para além da morte.
Veja - O senhor fala, às vezes, de seus inimigos íntimos. Quais são os principais?
NÉLSON RODRIGUES - Eu nunca falei de inimigos íntimos. É uma expressão muito convencional. Falo, sim, de irmãos íntimos. Você sabe que os irmãos são sempre
íntimos. E falo, também, do desconhecido íntimo. É o sujeito que eu encontro na rua e que me chama de Nosso Nélson...
Veja - O que quer dizer que o senhor não tem inimigos?
NÉLSON RODRIGUES - Me recuso a ter inimigos. Acho que o ódio de um homem para com outro homem cria entre eles uma relação, uma dependência homossexual.
Veja - O senhor não sente uma certa saudade de quando era escritor maldito?
NÉLSON RODRIGUES - Mas, meu bem, eu continuo sendo um autor maldito. Ninguém é menos oficial do que eu. Não sei o que é a glória, porque nunca provei de seu mel.
Sou contestado pelos imbecis de todas as tendências.
Veja - Há futuro para o teatro no Brasil?
NÉLSON RODRIGUES - Acho que nossos dramaturgos têm que trabalhar. Façam peças. O futuro do teatro brasileiro é o trabalho de seus autores. Só assim teremos um
repertório nacional.
Veja - Repito a pergunta: há futuro?
NÉLSON RODRIGUES - O negócio deles é Marx, José Celso, Brecht e politização.
Veja - Política em vez de teatro?
NÉLSON RODRIGUES - É todo mundo preocupado com o Terceiro Mundo. São todos alienados. Nas passeatas, que foi um momento sublime do ridículo, falavam de tudo,
menos do Brasil. Nunca um negro entrou numa passeata. Era o filho da alta burguesia, filho das classes dominantes fazendo uma brincadeira ideológica.
Veja - O senhor diz que só há sentimentos profundos nos subúrbios, na zona norte. Isso não faz parte do Terceiro Mundo?
NÉLSON RODRIGUES - Eu sou um homem que só se interessa pelo Brasil. O Terceiro Mundo só me dá tédio. A fome da África não me interessa. Só a nossa.
Veja - Por falar em Brasil: como vai ele?
NÉLSON RODRIGUES - Acho que está formidável. Começou, finalmente, o nosso desenvolvimento. Quem não vê isso nega a evidência objetiva e até espetacular.
VESTIDO DE NOIVA
(...) " Madame Clessi
Quer falar comigo?
Alaíde ( aproximando-se, fascinada )
Quero, sim. Queria...
Madame Clessi
Vou botar um disco. ( Dirige-se para a invisível vitrola, com Alaíde atrás )
Alaíde
A senhora não morreu?
Madame Clessi
Vou botar um samba. Esse aqui não é muito bom. Mas vai assim mesmo. ( Samba surdinando ) Está vendo como estou gorda, velha, cheia de varizes e de dinheiro?
Alaíde
Li o seu diário.
Madame Clessi ( cética )
Leu? Duvido! Onde?
Alaíde ( afirmativa )
Li, sim. Quero morrer agora mesmo, se não é verdade!
Madame Clessi
Então diga como é que começa. ( Clessi fala de costas para Alaíde )
Alaíde ( recordando )
Quer ver? É assim... ( Ligeira pausa ) "Ontem, fui com Paulo a Paineiras"... ( feliz )É assim que começa.
Madame Clessi ( evocativa )
Assim mesmo. É.
Alaíde ( perturbada )
Não sei como a senhora pôde escrever aquilo! Como teve coragem! Eu não tinha!
Madame Clessi ( à vontade )
Mas não é só aquilo. Tem outras coisas.
Alaíde ( excitada )
Eu sei. Tem muito mais. Fiquei!... ( Inquieta ) Meu Deus! Não sei o que é que eu tenho. É uma coisa – não sei. Por que é que eu estou aqui?
Madame Clessi
É a mim que você pergunta?"
(...)
RODRIGUES Nélson. Teatro Completo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981, pág. 114
Jean Moorhead
Barbara Eden (Barbara Jean Moorhead) completa aniversário hoje ( nasceu em 23 de Agosto de 1934). Também ficou conhecida como Barbara Huffman, após sua mãe ter se casado novamente. Barbara fez muito sucesso encarnando a personagem-título da série Jeannie é um Gênio.
Mini Skirt Monday #80: Barbara Eden:
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