sexta-feira, março 04, 2011
Os Carnavais de Donzinha
Programa Vozes da História - Rádio CBN Maringá- Março de 2006 - Homenagem a Maria Freire Lorencete , a popular Donzinha. Agora fica a pergunta: já não é hora de eternizar essa foliã com o nome de uma rua em Maringá?
Ela não é a Maria do Ingá, mas também é Maria e saiu do sertão paraibano em busca de uma vida melhor. Antes de chegar à cidade que teve seu nome inspirado na música de Joubert de Carvalho, Maria Freire Lorencetti, também conhecida como Donzinha, passou pelo Rio de Janeiro com a irmã e o cunhado. Ela estava grávida e viúva. Mesmo assim, encarou uma viagem difícil: na terceira classe de um navio, onde começou a passar mal e foi levada para a primeira classe.
Na capital fluminense, trabalhou um tempo na casa de Dalva de Oliveira e, ao saber que novas cidades estavam surgindo no interior do Paraná, deixou seu lado aventureiro mais uma vez a conduzir e partiu, com o filho, rumo a uma cidade ainda em processo de colonização. Chegou aqui em 1952 e permaneceu até a sua morte, em 1997, em decorrência da Síndrome de Guillan Barré, doença rara que paralisa gradativamente os nervos.
Dez anos depois de sua morte e em tempos de carnaval, não tem como não lembrar e homenagear esta personagem folclórica de nossa história. Donzinha foi a primeira rainha do carnaval maringaense, eleita graças à amizade que tinha com vereadores, pois trabalhou 27 anos como zeladora na Câmara Municipal. Naquela época a rainha era escolhida como hoje se escolhem as sinhazinhas: vendendo talões, os quais os vereadores compravam fechados.
Antigamente, no carnaval maringaense havia escolas de samba, blocos carnavalescos, concursos, rei momo e festas em clubes e na rua. O lança-perfume era liberado e as marchinhas reinavam. Donzinha confeccionava suas próprias fantasias com papel ou chita. "Desde criança ela gostava muito de carnaval, mas seus pais eram muito católicos e viam a festa da janela, não deixavam os filhos entrarem nos blocos. Um dia, aos 2 anos, fez uma máscara de papel e se fantasiou para não ser reconhecida pelos pais. Desfilou e até deu tchau para os pais, mesmo suando e a máscara se desfazendo", conta a nora Tiana Lorencetti, para quem as lembranças ainda estão vivas. Foi num baile que Donzinha conheceu seu segundo marido, o sanfoneiro Pascoal. Com ele, teve mais dois filhos.
Donzinha era uma mulher alegre, que gostava de dançar, cantar, tocar pandeiro e fazer repente. Desafiava as pessoas para a rima e sempre ganhava. "Quem não a conheceu perdeu a chance de conhecer uma grande mulher, que amava a vida e dividia tudo o que tinha", lembra Tiana. "Para mim, falar nela é falar em alegria. Aonde ia, encantava as pessoas. Ela que comprou minhas alianças e incentivou meu casamento com seu filho. Até o último momento ela manteve o humor", conta.
Ela também era uma pessoa política. Vibrava e torcia pelos seus candidatos, chegava a subir para cantar em palanques mas, mesmo tendo seus favoritos, não perdia a amizade de ninguém: foi também com a ajuda dos vereadores que arrecadou dinheiro para voltar ao Nordeste e buscar sua mãe. "Ela dizia que quem tem amigos não precisa de dinheiro. Alguns médicos a atendiam de graça, a qualquer hora do dia", lembra Tiana. Um desses médicos viu Donzinha falecer em seus braços, aos 77 anos, sem cumprir a promessa de que lhe ensinaria a dançar forró. "As enfermeiras disseram que nunca viram aquele médico tão triste". Antes de morrer, ela deixou uma recomendação: "Ninguém vai chorar no meu buraco".
Para lembrar
Donzinha, a eterna rainha do carnaval maringaense, foi eleita graças à amizade que tinha com vereadores da época. Durante 27 anos, ela trabalhou como zeladora na Câmara Municipal. (texto O Diário do Norte do Paraná - 18 de fevereiro de 2007)
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