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sexta-feira, dezembro 05, 2025

Monólogo "Ventoinha" de Coelho Netto

"Ventoinha" de Coelho Netto


Em 1975, estudava no Colégio São josé, em Petrópolis (RJ). A professora de teatro 
era a fantástica Henriqueta Bortolotti que marcou história na cultura petropolitana. 
Enfim, tive um desafio aos 11 anos: fazer o monólogo Ventoinha.
minha mãe, Martha Bulgarelli, copiou a mão todo o texto.  
Lendo e relembrando, fico orgulhoso daquele menino. 
Obrigado, tia Henriqueta!  

VENTOINHA

(Monólogo de Coelho Netto)

Personagem:
Carlos, 12 anos. Maneiras pretensiosas.

Cenário: Sala.

(Entra vagarosamente, sobrepondo um volume, embebido na leitura de uma

 revista ilustrada. Detém-se em meio da cena. Com um momo, menenando a 

cabeça em aceno negativo.)

CARLOS:
— Não! Não vão bem. Nesse andar dão com os burros n'água. Falta-lhes uma 

cabeça, um Napoleão. Esta guerra está a pedir um gênio como Alexandre, César 

ou Napoleão. Estava não val. E pena que eu seja ainda tão criança. Ah! Se eu 

fosse homem e eles me confiassem o comando das tropas...

(Sem deixar a revista, mete a mão no bolso e tira uma touca de criança com a 

qual espoia o rosto. Sentindo-lhe a aspereza das rendas.)

— Que é isto? Uma touca! Esta minha cabeça! Que hei de fazer? É de família. 

Meu tio Sarajuba era tão distraído que, querendo estudar medicina, para que 

tinha grande vocação e dedo, matriculou-se na Escola Politécnica e, quando 

se formou, em vez de exercer a engenharia, abriu um consultório, receitando 

aos doentes fórmulas algébricas e resolvendo casos de cirurgia com uma das 

quatro operações.

Lembro-me ainda de lhe haver ouvido afirmar que o que havia de melhor para a

 coqueluche era um xarope de raiz quadrada. Se o não tivessem recolhido ao

 hospício, a medicina seria hoje um ramo das matemáticas superiores. Deram-no por doido, a ele, um sábio!

Que se há de fazer? É o destino de todos os grandes homens, os eternos incompreendidos. (Com languidez moderna.) Por exemplo. Quem há aí que me

 entenda? Ninguém!

Lembro-me que, desde pequenino, de manhã, fui sempre tão distraído que 

trocava a noite pelo dia, não a deixando pregar olho um segundo. Por isso fui

 desmamado antes de completar oito meses. Comecei a sofrer muito cedo, 

mais cedo do que meu tio. (Com fúria!)

A distração é o desprendimento do espírito: O homem distraído eleva-se do 

mundo material, abandona a terra pelo espaço, despreza as mesquinharias do

 plano inferior pela grandeza do ideal, como a ave remonta em vôo altivo às 

nuvens. (Figueira vaidoso.) Algumas vezes, sucede-lhe cair, como se deu com

meu tio Serapito: mas se dá vai longe! (Outro tom.)

No colégio, os lentes, os bedéis, os colegas todos me tratam de “ventoinha”. 

Pensam que me incomodo! (Encolhe os ombros com altivez.) Pois sim! Inveja! 

Se me distraio em uma conta, na análise de um trocado, na definição de uma

 regra, é contar logo com a gargalhada. Os medíocres não compreendem, nem 

podem compreender os espíritos de eleição.

Aritmética, gramática, geografia, física, química… que valem tais lubrocracias?

 O gênio não se prende a regras. O sol precisa de excitação ou de querosene

 para alumiar? Não! Alumia porque é sol. Assim o homem de gênio: sabe porque

 sabe.

Nós me procurei com gramáticas e números e João, escrevo, forço todo que

 gemo. Colaboro em vários jornais e se os meus artigos não saem é por falta de

espaço. Riem de mim quando não atino, de pronto, com o sujeito da oração.

 Ou um sujeito! Que eu um sujeito? Não é que eu não saiba, é que me perco, 

distraio-me. Tenho fatos problemas na cabeça…

Outra para-cauda é a tal história dos pronomes. Francamente… Pois com tanta

 coisa séria que há na vida de um homem, ter cabeça para cuidar de pronomes,

 colocando-os à direita ou à esquerda, e vocês, lá porque a gramática assim 

entenda.

Os pronomes que se arranjem, eu é que não hei de andar atrás deles, a dizer-lhes: “Cavalheiro, o seu lugar é aqui, tudo caro você…” ali como quem distribui lugares à mesa.

 Eu faço com os pronomes o que papai faz com os antigos que vêm aqui jantar:

 senta-se e diz-lhes: “Sem cerimónia, como em sua casa!”. E eles arranjam-se.

Depois, distraído como sou… Se não fossem as minhas distrações, eu já estaria

 matriculado na Faculdade de Direito, porque o meu sonho é fazer um túnel qu

e ligue o Distrito Federal a Niterói. (Pausa. Sorriso.)

Ora, aqui está. Vêem? Um bacharel a fazer tantos… É a alma do meu tio Serapito. 

Isso é que me preocupa. Se eu me pudesse dominar, firmando a atenção no que

 faço… Ah! Mas qual! O meu espírito é como um passarinho que se não aquieta em um ramo e só quer voar daqui para ali, ao sol.

Abro um livro, ponho-me a estudar… De repente, as letras começam a mover-se: 

crescem, põem-se a dançar, a correr, e a página transforma-se em uma tela de 

cinema e, em vez de uma descrição geográfica, de uma equação ou de um 

capítulo de história, vejo uma fita de animação causada. Ora, filmes, quando são 

muito longas, fatigam os olhos e fazem dormir, não é verdade?

No dia seguinte, na sala, é aquela certeza: nota má. A culpa é minha? Não. De

quem é? (Espalmando a mão na fronte.) Disto! É do mundo de idéias que tenho

 aqui dentro. O futuro dirá quem sou e o que valho.

(Olhando em volta.) Que vim fazer aqui? (Procura lembrar-se.) Ah! Procuro 

o meu atlas, roubei-o ou deixei? No colégio, com certeza. Também para umas 

terrinhas de nada, um volume daquele tamanho. (Põe-se a procurar por aí e,

 abrindo um deles, descobre um catálogo. Com grande alegria.)

Os meus soldados! Foi mamãe que os escondeu aqui no dia em que levei nota 

tal em geografia. (Penalizado.) Pobres prisioneiros do general. (Outro tom.)

 E isto! Depois dizem que sou vadio. Eu não tinha inclinação é para a guerra.

Estudo batalhas, fico horas e horas à mesa confundindo planos e, também os 

vem executar, aparece José com a toalha, guardanapos, pratos, talheres, para

 pôr a mesa. Se desço à horta para fazer uma trincheira, falta-me logo em cima

Manuel: “Que não! Que tenha pepinos, que não lhe esburague os canteiros,

 não lhe estrague as plantas.”

E estudar? Só querem livros na mão. Os imbecis… Cada qual para o que nasceu.

Entendem que hei de ser médico! Cortam-me as asas e querem que eu voe. 

Pois sim! Soltem-me! Deixem-me liberdade! Deixem-me ir para onde me chama a vocação, para onde me leva o gênio. (Enlevado.) O gênio!

(De repente, prestando atenção.) Vem gente! E mamãe, com certeza. 

(Ao público.)

 Não digam que eu estive aqui a tagarelar com os senhores, senão ela não

 me leva amanhã ao cinema. (Arregalando os olhos.) E vai uma fita!…

(Senta-se, abre o livro que traz debaixo do braço e põe-se a declamar com ênfase.)

"Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda
Mas de tuba canora e belicosa
Que o peito acende, e a cor ao gesto muda."
(Crepúsculo — Coelho Netto)


NOTA DO AUTOR

Preocupado com a formação dos jovens e a educação infantil, Coelho Netto 

escreveu uma série de obras de cunho cívico e moral: A América, A Terra

Fluminense, Centro Fúnebre, Apólogo; Teatro Infantil, A Pátria Brasileira e Brevário

 Cívico.

Preocupado com a falta de textos para as representações escolares,

 escreveu pequenas cenas, monólogos e poemas para serem interpretados por 

crianças, pois se revoltava ao ver “crianças reproduzindo as chalaças 

regamboladas que tanto depravam os nossos teatros”. Esses textos foram

 reunidos num volume — Teatrinho, de onde tiramos o monólogo seguinte.

(Fim do monólogo.)


analise o texto

Análise do Monólogo "Ventoinha" de Coelho Netto

1. Contexto e Objetivo

  • Gênero: Monólogo teatral infantil, parte da obra Teatrinho (1910),

  •  que reúne peças para representações escolares.

  • Propósito: Criticar o ensino tradicional rígido e celebrar a imaginação

  •  infantil, além de satirizar a pretensão intelectual.

  • Tema Central: O conflito entre a criatividade livre da criança e as 

  • expectativas sociais/acadêmicas.

2. Personagem (Carlos)

  • Idade: 12 anos, mas com maneiras afetadas e discurso pretensioso.

  • Características:

    • Distraído: Herdou a excentricidade do tio Serapito (que confundia 

    • medicina com matemática).

    • Sonhador: Planeja "um túnel entre o Distrito Federal e Niterói" e 

    • transforma livros em filmes.

    • Rebelde: Rejeita gramática ("pronomes que se arrangem") e a 

    • carreira médica imposta pela família.

    • Narcisista: Acredita ser um "gênio incompreendido" (como

    •  Napoleão ou seu tio).

3. Estrutura e Linguagem

  • Tom: Alterna entre cômico (ex.: receitar "raiz quadrada" para coqueluche) e lírico (ex.: comparação do espírito com um pássaro).

  • Recursos Estilísticos:

    • Ironia: "A medicina seria hoje um ramo das matemáticas"

    • (critica a racionalidade excessiva).

    • Metáforas: Letras que viram cinema, espírito como passarinho.

    • Intertextualidade: Citação de versos de Crepúsculo (do próprio autor).

  • Ritmo: Frases curtas e exclamativas (agitadas) contrastam com

  •  devaneios poéticos (fluidos).

4. Crítica Social

  • Educação:

    • Escolas reprimem a curiosidade ("cortam minhas asas").

    • Professores ridicularizam Carlos por erros gramaticais, não

    •  valorizando seu pensamento criativo.

  • Família:

    • Pais impõem carreiras práticas (medicina), ignorando seus sonhos.

    • A mãe esconde seus soldados de brinquedo (símbolo da 

    • repressão à imaginação).

5. Simbolismos

  • Ventoinha (título): Metáfora para a mente inquieta de Carlos, que gira 

  • sem controle.

  • Soldados de chumbo: Representam a infância aprisionada pelas regras

  •  adultas.

  • Cinema: A realidade é mais atraente quando transformada pela fantasia.

6. Influências e Originalidade

  • Tradição: Dialogia com o romantismo (genialidade vs. mediocridade) e o modernismo (fluxo de consciência, linguagem coloquial).

  • Inovação: Um dos primeiros textos brasileiros a colocar uma 

  • criança como narrador crítico do mundo adulto.

7. Atualidade

  • Educação: Discussão sobre ensino padronizado vs. criatividade

  •  ainda relevante.

  • Infância: A peça antecipa debates sobre autonomia infantil e TDAH

  •  (embora sem diagnóstico, Carlos exemplifica a mente dispersa).

Conclusão

"Ventoinha" é uma sátira engajada e poética que:

  1. Denuncia a rigidez educacional;

  2. Celebra a infância como espaço de invenção;

  3. Questiona o que é "loucura" (genialidade) ou "vagabundagem" 

  4. (liberdade).

Público-alvo: Embora escrito para crianças, sua crítica é universal –

tanto para alunos oprimidos por decorebas quanto para adultos que 

esqueceram como sonhar.





quinta-feira, dezembro 04, 2025

REVISTA AMIGA RITA LEE 1976

 



RITA LEE ESTÁ DE VOLTA. COM ENTRADAS E BANDEIRAS

A vivência dos setenta shows que fez recentemente virou um LP

“Procuro criar em meus shows um clima de fantasias. Quando a turma gosta, eu também gosto. E o público canta e dança comigo.”

No clima frenético dos adeptos do rock, Rita Lee lançou seu mais recente LP — Entradas e Bandeiras — durante a inauguração da Dancing Days, na primeira semana de agosto.

Entradas e Bandeiras é o resultado do aprendizado e da vivência durante os setenta shows que fizemos por todo o Brasil. Em cada lugar, um novo som, um costume, um grupo, tudo diferente. Do encontro do desastre dado e colhemos as informações para um novo trabalho. O fato de chegarmos de repente, com um novo tonelado de equipamentos de som em Belém do Pará — por exemplo — era uma entrada mesmo. Era uma coisa. Trocávamos a tecnologia pela calma deles. Esse trabalho, levado a todos os lugares, mostrando o Fruto Proibido (show antigo de Rita Lee e seu grupo) e Little and the Lion (show novo), e que teve como consequência Entradas e Bandeiras, foi iniciado em julho de 1975 para só ficar pronto em junho deste ano.

Para Rita Lee, o Fruto Proibido foi uma proposta, enquanto Entradas e Bandeiras é a chegada.

“A temática de minhas músicas é o dia-a-dia, o que sabemos do mundo, do Brasil e de tudo que vivemos. Não tem preocupação filosófica, cultural nem outra qualquer. E as mensagens são aquelas que as pessoas querem tirar. É livre, sem opiniões. A respeito do rock, que muita gente costuma dizer que é inconsequente, minha opinião é de que ele representa todos os ritmos. Não tem fronteiras. Não é preciso entendê-lo.”

Durante suas apresentações, Rita se preocupa muito com o visual. Sua figura alta e magra, com o auxílio de roupas de colorido sempre berrante, ela é toda movimento sob as luzes também muito coloridas.

“O ato de pisar no palco, para mim, é sempre uma festa. É como receber aquela gente toda e dizer: tudo bem, divirtam-se. Procuro criar um clima mágico, de fantasias. E, quando sinto que agradei, a alegria maior fica comigo.”

Reportagem de Valter Moura de Souza
Foto de Sérgio de Souza

quarta-feira, dezembro 03, 2025

Hotel del Salto,

 Hotel del Salto, um famoso edifício abandonado na Colômbia, localizado próximo à Cascada del Tequendama, no município de San Antonio del Tequendama, a cerca de 30 km de Bogotá.






📍

  • Situado à beira de um penhasco com vista para a impressionante Cachoeira de Tequendama (com cerca de 132 metros de queda).

  • A região é marcada por forte névoa e vegetação densa, criando um cenário dramático e misterioso — o que contribuiu para sua fama na cultura popular.

🏨 

  • Inaugurado em 1928 como um hotel de luxo, atraindo turistas ricos que vinham contemplar a paisagem.

  • Durante décadas, foi um símbolo do turismo na Colômbia.

  • Fechou as portas nos anos 1990, em parte devido à poluição do Rio Bogotá e ao declínio do turismo na região.

  • A construção permaneceu abandonada por anos, alimentando lendas urbanas e histórias de assombrações.

🕯️ 

  • O local ficou conhecido como cenário de tragédias e suicídios, especialmente devido ao penhasco próximo.

  • Há histórias locais sobre espíritos vagando pelos corredores e sons estranhos durante a noite.

🏛️ 

  • Estilo europeu clássico, com elementos art déco e influência francesa.

  • Fachada cor-de-rosa, varandas com vista para o abismo e detalhes ornamentais nas janelas.

  • Atualmente, parte da estrutura foi restaurada para abrigar o Museo del Agua, mas a atmosfera ainda remete ao abandono.

🎥 

  • Cenário recorrente em documentários, fotografias de “lugares assombrados” e vídeos de exploradores urbanos.

  • A imagem que você trouxe captura bem a mistura de beleza e decadência que o tornou icônico.