Bernardo Bertolucci, Março 16, 1941 – Novembro 26, 2018. Foto : Antonin Kratochvil. |
RIO — Em atividade desde a década de 1960, o cineasta italiano Bernardo Bertolucci saiu de cena nesta segunda-feira, aos 77 anos. Criador de clássicos como "O último tango em Paris" e "O último imperador", ele era considerado um mestre do cinema italiano e mundial, e recebeu uma Palma de Ouro honorária em 2011 no Festival de Cannes pelo conjunto de sua obra.
Ao longo de sua carreira, Bertolucci colecionou clássicos, devidamente analisados pelo Bonequinho do GLOBO. Abaixo, uma lista de críticas que cobrem desde "O conformista" (1970) até seu trabalho derradeiro, "Eu e você" (2012): Links Bertolucci
"O conformista" (1970)
Bonequinho aplaude de pé
Lançado no Brasil em 1971, o filme é uma adaptação do romance homônimo de Alberto Moravia. Nele, um intelectual se aproxima do regime fascista de Mussolini e deve assassinar um antigo professor.Original_movie_poster_for_the_film_The_Conformist.jpg
Naquele ano, o crítico Fernando Ferreira afirmava que o filme era fascinante. "'O conformista' é, também, admirável visualmente. A composição de imagens revela um preciosismo estético que não se vê com frequência, com sua carga de influências expressionistas e a reminiscência de um rebuscamento artesanal confessadamente assimilado no cinema caligráfico de Max Ophüls", apontou.
"O último tango em Paris" (1972)
Bonequinho aplaude de pé
Clássico de Bertolucci, o filme estrelado por Maria Schneider e Marlon Brando, que viria a se tornar também a grande polêmica do diretor, gira em torno de um viúvo americano que conhece uma jovem parisiense no apartamento que ambos querem alugar, onde iniciam um romance.
Lançado no Brasil apenas em 1979, o filme foi analisado em novembro daquele ano por nada menos do que quatro críticos do GLOBO: Fernando Ferreira, Miguel Pereira, José Carlos Monteiro e Maribel Portinari. Todos foram unânimes em dar a avaliação máxima para o longa.63517451_SC - Último tango em Paris de Bernardo Bertolucci.jpg
"'O último tango' é, de fato, uma obra construída em ritmo rigorosamente solucionado e consequente e numa atmosfera onde o violento e contudente jamais excluem o intensamente poético e dramático e a composição requintadamente gerada", disse Ferreira.
Já Mirabel falou sobre o atraso no lançamento do filme, por conta da censura: "Esta sua parábola sobre a incomunicabilidade revela um cineasta com pleno domínio do métier, um dos poucos de sua geração que tem algo realmente de novo a dizer. E se o filme chega aqui com vários anos de atraso, não perdeu a atualidade, no contrário do que aconteceu a outros banidos recentemente exibidos, como por exemplo 'A comilança' e 'Laranja mecânica'".
"O último imperador" (1987)
Bonequinho aplaude de pé
No fim de março de 1988, chegava aos cinemas brasileiros "O último imperador", vencedor de nove Oscars (incluindo melhores filme e diretor) e quatro Globos de Ouro. Com John Lone, Joan Chen e Peter O'Toole no elenco, o filme abordava a vida de Puyi, o último imperador da China, desde sua infância na Cidade Proibida de Pequim até o final de sua vida, como prisioneiro do regime comunista chinês.
O crítico José Carlos Monteiro exaltou a plasticidade da película, que descreveu como "deslumbrante": "os amplos movimentos de câmara destacam o esplendor da corte, os precisos enquadramentos ressaltam a imponência dos ambientes palacianos e a soberba orquestração dos planos salienta o movimento pendular entre o exterior e o interior".
"O céu que nos protege" (1990)
Bonequinho aplaude sentado
Pela primeira vez, Bertolucci não conseguia a avaliação máxima do GLOBO. No ano em que completou meio século de vida, o italiano lançou um filme sobre um casal de americanos que viaja para a África em busca de uma revitalização para o seu casamento, mas logo se vê às voltas com novos problemas.302-O-C-C3-A9u-Que-Nos-Protege.jpg
Para o crítico Luciano Trigo, "o clima opressivo e a exótica geografia do Saara produzem um imediato efeito de estranhamento que torna o espectador cúmplice da solidão do casal. Porém, fica a impressão de que, "menos estrangeiros no lugar que no tempo", Kit (Debra Winger) e Port (John Malkovich) vivem um exílio muito pior que o geográfico. O Bonequinho ainda chamou a película de "obrigatória".
"O pequeno Buda" (1993)
Bonequinho olha x Bonequinho aplaude sentado
Estrelado por Keanu Reeves e Bridget Fonda, o filme começa com monges budistas tibetanos encontrando três meninos (dois nepaleses e um americano). Eles acreditam que um deles por ser a reencarnação de seu grande mestre.
O filme dividiu opiniões e, no GLOBO, acabou ganhando um duelo de Bonequinhos. Ely Azeredo aplaudiu sentado o que chamou de "fábula à moda Spielberg", adicionando que Bertolucci "fez um filme palatável para as grandes plateias": "belíssimo espetáculo. E filme sem maior significação na obra de Bertolucci
Roni Filgueiras, por sua vez, foi mais cético. Seu Bonequinho só olha. "O que se anuncia como um instigante embate filosófico-cultural resulta em soluções improváveis e dramas superficiais. Paralelamente, corre a fábula — e o melhor do filme — da vida do príncipe Sidarta (Keanu Reeves), o Buda", ponderou.
"Beleza roubada" (1996)
Bonequinho aplaude sentado
Responsável por lançar ao estrelato Liv Tyler, o filme conta a história de uma americana de 19 anos que viaja à Toscana para passar uma temporada na villa de amigos da mãe, poeta recentemente falecida.
O crítico Carlos Helí de Almeida considerou a volta do diretor às paisagens italianas uma "formosura espiritual e paisagística": "o diretor preocupa-se em criar ambientes, acentuando o contraste entre a cultura da visitante e a adotada pelos anfitriões".
"Os sonhadores" (2003)
Bonequinho aplaude em pé
Passado durante os levantes estudantis de Paris em 1968, o filme fala de um universitário americano (Michael Pitt) que chega à capital francesa e conhece um casal de irmãos (Eva Green e Louis Garrel) com quem divide paixões — entre elas, o cinema.60184188_Filme - Os Sonhadores.jpg
Foi celebrado como um retorno de Bertolucci ao seu melhor. Para Bruno Porto, crítico do GLOBO, o filme "ameaça ser uma viagem romântica pelo maio de 1968 e vira uma crítica contundente à geração que ia mudar o mundo".
"Eu e você" (2012)
Bonequinho aplaude de pé
"Eu e você" é o primeiro e único filme de Bertolucci na atual década, e também o último de sua carreira. O longa se passa num porão em que o jovem Lorenzo (Jacopo Olmo Antinori) se esconde durante uma semana e no qual sua meia-irmã Olivia (Tea Falco) se abriga ocasionalmente.
Para André Miranda, "Eu e você" é "um retrato da relação entre a dupla e de como um pode descobrir no outro um caminho para se reerguer. Mas a condução por Bertolucci é tão precisa que um porão desarrumado e escuro passa a ser o lugar mais seguro do mundo para aqueles dois".
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