Adeus, meninos
Adeus, meninos foi inspirado na lembrança mais dra mática de minha infância. Em 1944, eu tinha onze anos e era interno num colégio católico, perto de Fontainebleau. Um de meus colegas, que havia chegado no co- meço do ano, me intrigava muito. Ele era diferente, dis- creto. Comecei a conhecê-lo, a amá-lo, quando, certa ma- nhã, nosso pequeno mundo desabou.
Esta manhã de 1944 praticamente decidiu minha vo- cação de cineasta. É a minha fidelidade, minha referência. Deveria tê-la feito a matéria de meu primeiro filme, mas hesitava, esperava. O tempo passou, a lembrança se tornou mais aguda, mais presente. No ano passado, após dez anos nos Estados Unidos, senti que era che- gado o momento e escrevi o roteiro de Adeus, meninos. A imaginação utilizou-se da memória como um tram- polim, reinventei o passado, além da reconstituição his- tórica, em busca de uma verdade ao mesmo tempo lancinante e intemporal. Através do olhar desse garotinho que se parece comigo, tentei reencontrar esta primeira amizade, a mais for- te, bruscamente destruída, e a descoberta do mundo ab- surdo dos adultos, com sua violência e preconceitos. 1944 está longe, mas eu sei que um adolescente de hoje pode partilhar a minha emoção.
Louis Malle
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