PAI PATRÃO
Pai Patrão conta a história de um aprendizado obstinado e contraditório. O relato quer ser um testemunho etnográfico, mas, através do documento, narra-se toda uma vida que, para se expressar, vai ao encontro da dramatização sempre presente nos cancioneiros populares.
Gavino Ledda, seu autor, foi pastor aos seis anos: trata-se de tradição secular na Sardenha. A infância é a época da convivência íntima com os signos: há que aprender a reconhecer e a nomear as árvores e as colinas, os animais e as variações climáticas. Há que aceitar a lei de uma família governada pelo "furor" do pai, senhor, patrão, proprietário da terra e dos homens. Há, enfim, que conhecer a tradição legendária de uma sociedade, com seus heróis e seus bandidos, seus personagens violentos e os humildes, seus anciãos enraizados e seus emigrantes expulsos pela miséria.
Virá então o tempo da opção e da revolta. Para Gavino, durante longos anos, a liberdade foi o alimento de seus sonhos. É o serviço militar que, arrancando-o de seu solo natal, lhe abrirá o caminho das palavras e o acesso à cultura. Emancipação, de resto, duramente conquistada por esse adolescente renegado pelos seus, ignorado pelos outros.
Uma consciência nasce da adversidade: é o furor do filho. Pode-se ler Pai Patrão como o relato otimista de uma libertação individual exemplar. Há, porém, que ouvir, nas entrelinhas deste livro poderoso, o canto angustiado de um povo há séculos mergulhado na mais indigna miséria.
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