quinta-feira, fevereiro 07, 2008
SANTA FELICIDADE
A incerteza dos moradores do conjunto Santa Felicidade também está na edição de hoje da Gazeta do Povo. Fiz a matéria cobrindo a folga do Andye Iore. Como muita gente não tem a senha para ler o texto na web, estou colocando aqui na íntegra. Na foto, o morador Elídio Alves dos Santos e sua casa construída ao longo de 30 anos. Ele falou hoje no programa do Edson Lima na Rádio Cultura AM, durante a entrevista com o prefeito
O que seria alegria para os moradores do bairro Santa Felicidade – na zona sul de Maringá – está dando lugar para um clima de desconfiança e revolta. O município foi contemplado com R$ 20 milhões do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal. Os recursos – que somados com as contrapartidas do estado e do município chegam a R$ 25 milhões - são destinados para o desfavelamento em áreas de risco. Porém, no caso do Santa Felicidade, o bairro é urbanizado e não pode ser considerado uma favela.
A preocupação aumentou quando os moradores foram informados que haveria a intenção da prefeitura em promover a remoção de parte daquela população. Em troca, o município estaria oferecendo novas casas em outras localidades. No Santa Felicidade há moradores que ali estão há 30 anos. Alegam que pagam IPTU e não querem abrir mão de um bairro que está próximo do centro da cidade, perto de seus locais de trabalho e do hospital municipal.
O conjunto conta com 267 residências, algumas com até duas famílias. Foi construído na década de 70 com recursos do extinto BNH, dentro de um projeto de desfavelamento da cidade, quando não havia valorização imobiliária na zona sul do município. O bairro está a menos de cinco quilômetros do centro de Maringá, em um local considerado nobre, perto do antigo aeroporto e de condomínios fechados.
O clima de desconfiança só aumentou quando a ONG Mães de Vítimas de Violência - Justiça e Paz, que há anos trabalha com os moradores do bairro, verificou que as fotos do projeto inseridas no site do Ministério das Cidades para justificar os recursos, são de barracos não existentes no Conjunto Santa Felicidade.
A advogada da entidade Jacheline Batista Pereira conta que desde dezembro os moradores estão sendo informados sobre a remoção de algumas casas. Acredita que há uma forte especulação imobiliária por detrás do projeto, uma vez que o Conjunto Santa Felicidade está situado em uma área próxima a condomínios de luxo. Uma comissão formada por moradores do bairro já foi criada a fim de cobrar melhores explicações por parte da prefeitura.
O caso do jardineiro Elídio Alves dos Santos, 71, exemplifica bem o clima de desconfiança.Desde 1977 ele mora numa rua que não é muito diferente das outras do bairro: conta com asfalto, tem casas de alvenaria e com serviços de água e esgoto. Em nada lembra uma favela. Sua residência de 117 metros quadrados foi construída ao longo de 30 anos e ele não aceita a idéia de se desfazer do patrimônio. “A prefeitura me ofereceu uma casa de 40 metros quadrados e eu não quero isso. Minhas filhas cresceram aqui”, acrescentou.
De acordo com o projeto da prefeitura, a cada duas casas do bairro, uma teria que ser retirada para melhorias na rede de esgoto. O município alega que a rede a tubulação passa por dentro do terreno de algumas residências. Porém, os moradores acham que é possível a realização das obras sem qualquer tipo de remoção. Defendem que o dinheiro também poderia ser utilizado na construção de salas de informática, centro cultural e cooperativas.
A prefeitura já havia realizado reuniões no bairro para tentar explicar o projeto, apresentado pelo prefeito Silvio Barros. Alguns moradores foram levados de ônibus para conhecer outras áreas da periferia do município em que seriam construídas novas casas.
O coordenador municipal de Políticas Urbanas e Meio Ambiente da Prefeitura de Maringá, Jurandir Guatassara Boeira, explica que o dinheiro do PAC é para “revitalizar” o bairro. “Queremos alargar as ruas e passar a rede de esgoto para as calçadas. Atualmente a rede passa no meio dos lotes. Há a necessidade da retirada de algumas casas”, justifica. “Mas os recursos não são todos para o bairro. Servirá para melhoria de outros locais e construção de novos bairros.” Um desses novos bairros – já batizado de Santa Bárbara - fica nas imediações do Santa Felicidade e numa área “três vezes maior”. Ali serão edificadas 220 casas, segundo a prefeitura.
Guatassara admite que a polêmica só foi criada devido ao projeto entregue ao Ministério das Cidades. “Em nenhum momento dissemos que aquelas fotos são do Santa Felicidade. Elas fazem parte de um conjunto de intervenções. Julgamos que o Santa Felicidade tem um déficit social e urbanístico muito grande e isso não faz do bairro um local melhor do que uma favela”.
(Marcelo Bulgarelli)
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