Em 1963, Fernando morreu. Era um livre. Era de todos, e não era de ninguém. Quando se cansava de fazer os gatos correrem pelas praças,
saía para flanar pelas ruas com seus amigos cantores e violeiros, e
com eles balançava rumo à música, tocasse onde tocasse, de festa
em festa. Nos concertos, era infaltável. Crítico de fino ouvido, sacudia o
rabo se gostava do que ouvia. Se não, rosnava. Quando foi pego pela carrocinha, uma rebelião o libertou. Quando foi atropelado por um carro, o melhor médico o atendeu, e internou-o em seu consultório. Seus pecados carnais, cometidos em plena via pública, costumavam ser castigados com pontapés que o deixavam arrebentado, e então as brigadas infantis do clube Progresso se desdobravam em cuidados intensivos. Em sua cidade, Resistência, no Chaco argentino, existem três
estátuas de Fernando.
(Do livro Os Filhos dos Dias, de Eduardo Galeano, um calendário histórico poético)
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