domingo, fevereiro 15, 2009
João Ubaldo
(...)
"Aí podia se resignar, que seguia uma escrotidão em cima da outra, encarreirado. Leite azedando, mulher abortando, menino de caganeira,
boi de bicheira, água podre no purrão, panarício no dedão, moça velha desonrada, casa nova destelhada, tudo o que possa lhe ocorrer. O
bicho tinha uma voz péssima, mestiça de gruta, uma coisa horrível de se ouvir assim no meio da noite – meu nome é Beremoalbo –
imagine o senhor. Pessoas há que procuram achar qualidades nesse diabo Beremoalbo, mas a verdade precisa ser dita, porque não existe
coisa neste mundo que não apareça algum descarado para elogiar: nesse Beremoalbo não tem nada que se salve, não se pode ter a
mínima confiança nele. Para não dizer mais nada, recordo o dia em que Beremoalbo se nos aparece por meio do serviço de altofalantes. O
que ele diz é o seguinte:
- Boa noite. Ao microfone, Beremoalbo. Votem no Medebê."
UBALDO, João. Ficção – Histórias para o prazer da Leitura. Rio de Janeiro, 1977, pág. 53
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