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sexta-feira, outubro 17, 2025

Obras-Primas do Terror Vol. 17


 

Este disco apresenta duas abordagens muito britânicas do horror: a investigação científica do paranormal e o terror pagão que se esconde sob uma fachada de civilidade e nobreza.

A CASA DA NOITE ETERNA (The Legend of Hell House, 1973)

Um dos melhores e mais inteligentes filmes de casa mal-assombrada já feitos. Com roteiro do mestre Richard Matheson (baseado em seu próprio romance, "Hell House"), o filme aborda o sobrenatural não com histeria, mas com uma abordagem quase científica, opondo a parapsicologia e a mediunidade contra uma força maligna e brutal.

Análise Crítica: A genialidade de A Casa da Noite Eterna está em seu roteiro preciso e em sua direção tensa e claustrofóbica. John Hough cria uma atmosfera de pavor constante dentro da Casa Belasco, um lugar descrito como "o Monte Everest das casas mal-assombradas". Diferente de obras mais sutis como Desafio do Além (The Haunting), o mal aqui é agressivo, físico e sexualmente perverso. O filme é uma batalha de vontades: a do físico cético que acredita que tudo é energia residual, a do médium mentalista que sobreviveu a uma visita anterior (uma performance fantástica de Roddy McDowall) e a da própria casa, uma entidade senciente e corruptora. É um filme de horror adulto, inteligente e genuinamente assustador, que funciona tanto como um suspense psicológico quanto como uma história de fantasmas implacável.

O OLHO DO DIABO (Eye of the Devil, 1966)

Uma obra fascinante e atmosférica que se insere perfeitamente na intersecção do mistério gótico com o folk horror. Com um elenco estelar e uma premissa pagã perturbadora, o filme cria uma sensação de estranhamento e pavor sob o sol da zona rural francesa.

Análise Crítica: A força de O Olho do Diabo está em sua atmosfera de segredo e tradição mortal. A direção de J. Lee Thompson constrói um mundo onde o cristianismo é apenas uma fachada para rituais pagãos muito mais antigos, ligados à fertilidade da terra. David Niven é excelente como o marquês que retorna à sua propriedade para cumprir um destino terrível, e Deborah Kerr transmite perfeitamente a angústia de uma forasteira tentando compreender a lógica perversa daquele lugar. O filme é notável pela presença hipnótica e etérea de Sharon Tate como uma bruxa local, em um de seus papéis mais memoráveis. A cinematografia em preto e branco acentua a beleza e a ameaça da paisagem. É um filme de suspense lento e elegante, que gradualmente revela um horror inevitável, enraizado no sacrifício e no ciclo da natureza.


DISCO 2: O Culto Rural e a Obsessão Urbana

Este disco justapõe o horror coletivo de uma comunidade que se volta para o mal com o horror individual de um homem cuja sanidade é corroída por uma única e persistente ameaça.

A IRMANDADE DE SATANÁS (The Brotherhood of Satan, 1971)

Um exemplar bizarro, surreal e genuinamente assustador do cinema de horror satânico dos anos 70. Este filme "B" transcende suas origens de baixo orçamento com uma atmosfera de pesadelo e um senso de mistério que o torna único.

Análise Crítica: A Irmandade de Satanás é eficaz porque não explica tudo. A família presa na cidade deserta se depara com um mistério indecifrável, onde brinquedos se tornam armas mortais e os idosos da cidade formam um culto sinistro para transferir suas almas para os corpos das crianças locais. A direção cria uma sensação de desorientação e pavor, especialmente nas cenas que mostram as reuniões do culto, filmadas com uma estranheza quase documental. As atuações de veteranos como Strother Martin e L.Q. Jones adicionam uma camada de veracidade a essa loucura. É um filme que explora o medo da corrupção da inocência e o terror de uma comunidade que devora seus próprios filhos para garantir a imortalidade. Uma pérola subestimada e perturbadora.

O INIMIGO DESCONHECIDO (Of Unknown Origin, 1983)

Um thriller de sobrevivência brilhante e um tour de force de seu protagonista. O que parece ser uma simples história de "homem contra animal" se transforma em uma descida à loucura, uma batalha épica travada dentro dos limites de um brownstone de Nova York.

Análise Crítica: Este filme é inteiramente sustentado pela performance impressionante de Peter Weller. Sozinho em cena durante a maior parte do tempo, ele nos leva de um homem de negócios bem-sucedido e organizado a um guerreiro primal e obcecado, disposto a destruir sua casa e sua sanidade para eliminar seu inimigo: um rato gigante e diabolicamente inteligente. O diretor George P. Cosmatos (Rambo II, Cobra) dirige o filme com uma energia e uma tensão eletrizantes, transformando a casa em um campo de batalha. O Inimigo Desconhecido é uma alegoria fantástica sobre a fragilidade da civilização moderna. Quando a ordem de seu mundo é invadida por uma força caótica da natureza, o homem moderno precisa regredir a um estado selvagem para sobreviver. Eletrizante e inteligente.


DISCO 3: O Bizarro Cósmico e o Suspense Felino

O disco final nos leva a dois extremos do horror: uma explosão de insanidade sobrenatural e um suspense psicológico contido, provando que o medo pode vir tanto de um demônio indígena quanto do olhar de um gato doméstico.

MANITOU – O ESPÍRITO DO MAL (The Manitou, 1978)

Prepare-se para um dos filmes de terror mais insanos, criativos e divertidos já feitos. Manitou pega a estrutura de O Exorcista e a joga em um liquidificador com mitologia indígena, horror corporal, ficção científica e a presença impagável de Tony Curtis como um falso vidente.

Análise Crítica: Manitou é um filme que abraça o absurdo com um entusiasmo contagiante. A premissa de um feto de um xamã de 400 anos crescendo nas costas de uma mulher é apenas o começo. O que se segue é uma escalada de loucura que inclui máquinas de escrever que disparam lasers, lagartos espectrais e um clímax no espaço sideral onde a heroína, nua, dispara raios de energia contra o demônio. É ridículo? Sim. É espetacular? Absolutamente. O filme tem uma energia de "vale tudo" que o torna irresistível. Com um elenco de veteranos se divertindo (incluindo Burgess Meredith), efeitos especiais práticos ambiciosos e uma imaginação sem limites, Manitou é a definição de um clássico cult e uma obra-prima do horror bizarro.

OS FELINOS (Eye of the Cat, 1969)

Um thriller psicológico elegante e tenso, escrito por Joseph Stefano, o roteirista do clássico Psicose. O filme usa uma fobia muito específica — o medo de gatos (ailurofobia) — como o motor central para uma trama de ganância e assassinato.

Análise Crítica: A genialidade de Os Felinos está em como ele transforma animais domésticos em presságios de puro terror. Para o protagonista, Wylie (Michael Sarrazin), os inúmeros gatos que habitam a mansão de sua tia rica não são apenas animais de estimação; são guardiões demoníacos, uma manifestação física de sua ansiedade e culpa. A direção de David Lowell Rich é excelente na criação de suspense, usando ângulos de câmera subjetivos (do ponto de vista dos gatos) e um design de som eficaz para nos colocar na mente aterrorizada de Wylie. O filme é um suspense hitchcockiano clássico, com reviravoltas e traições, mas sua arma secreta é a maneira como explora uma fobia real para criar um pavor genuíno e sufocante. Uma pérola subestimada.

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