O Globo – 23 de julho de 1995
Danny Boyle: Sucesso no mundo e identificação com Tarantino
O Globo: Seu background teatral foi útil no cinema?
Danny Boyle: Sim. Há alguns mecanismos teatrais em "Cova Rasa". A maior parte do filme é ambientada num único cenário, nesse apartamento gigantesco onde moram os protagonistas. A ideia é não mostrar o mundo real para essas pessoas. Uma vez dentro do flat, é só o que se vê. E isto é uma convenção bem teatral. Você pode entrar na mente dessas pessoas através do espaço onde elas vivem. Além disso, há o detalhe das cores, que também são bem teatrais. A maior parte dos filmes ingleses é cinzenta. Fizemos algo mais mediterrâneo, ou sul-americano.
O Globo: Você pretende continuar fazendo filmes fora do padrão inglês?
Boyle: Sim. Meu próximo filme se chama "Trainspotting". É uma expressão difícil de traduzir, que classifica o hábito muito particular dos britânicos de observar os trens. Mas não há trens ou pessoas olhando trens em "Trainspotting". É uma comédia macabra sobre um grupo de viciados em heroína, em Edimburgo, Escócia.
O Globo: Seu filme é um thriller com approach realista. De onde você tirou essas referências cinematográficas?
Boyle: "Cova Rasa" não é um filme inteiramente realista, quero dizer, não tem o tom social-realista que os filmes ingleses costumam ter. Meu filme está mais para o fantástico. Esses três amigos vivem neste apartamento enorme que parece uma torre de marfim, onde ninguém pode entrar. Eles criaram suas próprias regras para se proteger do mundo exterior e culpar os outros por suas falhas. Minha intenção era fazer um thriller mais intimista, com os primeiros filmes de [Roman] Polanski. Hitchcock também foi, com certeza, uma tremenda influência, porque obedece à narrativa tradicional do autor de "Psicose".