Texto de Sérgio de Moraes publicado na Revista da Semana, anos 70)
Crítica à comercialização do folk e do rock, com nostalgia da era de ouro (Dylan, protestos, Woodstock).
Do protesto ao consumo: os caminhos do folk e do rock
Nos últimos quarenta anos, a folk music percorreu uma trajetória que vai da intimidade familiar à mercantilização, passando pela política e pelo sonho da contracultura. O gênero que já identificou valores americanos, inspirou o esquerdismo e embalou os protestos dos anos 60, hoje se vê diluído em produto de consumo.
Nova Iorque, palco decisivo
Para qualquer artista, conquistar Nova Iorque significa alcançar metade do caminho para a fama internacional. Beatles triunfaram ali; Marc Bolan e o T. Rex, não. A cidade se tornou o campo de batalha do rock e, em sua base, pulsa o folk.
As metamorfoses do folk
Na década de 30, o folk soava em reuniões familiares como expressão da cultura popular. Nos anos 50, ganhou caráter político com Pete Seeger, perseguido pela Comissão de Atividades Anti-Americanas. Já nos anos 60, com Bob Dylan, transformou-se em protesto e consciência crítica, dando voz a causas como os direitos civis e a oposição à Guerra do Vietnã. Mas, nos anos 70, passou a ser embalado e vendido para a classe média por artistas como James Taylor, enquanto Bruce Springsteen surgia como promessa de renovação do rock.
O ouro dos anos 60
O bairro nova-iorquino de Greenwich Village se tornou, nos anos 60, um reduto boêmio onde folk, blues e poesia beat se encontravam. No Gerdé’s Folk City, Joan Baez, Seeger e Dylan experimentavam novas formas de expressão. Dylan rompeu com a tradição dos “bons vocais”, transformou letras em poesia e, ao lado da invasão britânica, foi responsável pela fusão que gerou o folk-rock. Byrds, Simon & Garfunkel, Lovin’ Spoonful e Neil Diamond são filhos diretos dessa mistura.
Do folk ao country rock
A guinada de Dylan em Nashville Skyline (1968) abriu espaço para o country rock, que atraiu Byrds e Baez. Parte da juventude hippie abandonou os centros urbanos em busca de comunidades alternativas, enquanto um novo folk mais suave e sentimental, com James Taylor e Carly Simon, dominava o mercado. Essa vertente já não tinha o mesmo ímpeto político — era música para consumo de uma classe média acomodada.
A indústria engole o sonho
Nos anos 70, a engrenagem da indústria fonográfica consolidou o rock como produto. Bruce Springsteen foi aclamado como “o novo Dylan”, mas logo veio a pergunta: seria apenas mais uma novidade para quinze dias de sucesso? O diagnóstico é duro: a contracultura ficou para trás, Woodstock virou lembrança, e o rock — que já foi rebeldia — se converteu em mercadoria.
“Nova Iorque é ponto estratégico na guerra do rock.”“Dylan reconheceu nos Beatles um veículo para suas poesias — e criou o folk-rock.”“O que foi um sonho parece que acabou mesmo.”
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