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segunda-feira, agosto 29, 2011

Lukas

Valeu meu velho, valeu mesmo! 
Eu adoro boteco. Eu tomo cerveja, tubaina, sodinha... Eu amo boteco e seus frequentadores. Eu pago cigarro, pinga e cerveja para alguns. Pipoca, paçoquinha, pra garotada. Sempre com dinheiro, ganho com meu trabalho.
Eu adoro os pedreiros, pintores, coletores de lixo, catadores de recicláveis, mulheres com suas criancinhas e suas carroças cheias de papelão, andarilhos. Eu cultuo essa gente. São meus.
Dos meus dias de fome, dos meus dias de luta e meses de choro, à cada noite, quando deitava no colchão com a barriga vazia. Tempos de sofrimento, tempo de mandar tudo à merda e desistir.
O pouquinho que tenho hoje eu reparto com esse pessoal aí.
Eles são os meus escolhidos. Meus mentores, meus mestres, meus iguais. E não tenho vergonha nenhuma de amá-los.
Lukas (1962 - 2011)



Entrevista de Lukas para a Rádio CBN Maringá - 2004
Abaixo, fragmento de On The Road, um dos seus livros preferidos. 
(...)
"Velha e escurecida Chicago, com seus tipos esquisitos, metade do Leste, metade do Oeste, e seu jeito estranho – podem ser vistos cuspindo no chão a caminho das fábricas. Na lanchonete Dean passou o tempo inteiro alisando a barriga e observando tudo que se desenrolava em volta. Quis puxar conversa com uma negra estranha, de meia-idade, que entrou no bar contando uma história triste – tinha uns pãezinhos, mas não tinha dinheiro, será que lhe dariam um pouco de manteiga? Não deram, e ela, que entrara rebolando as cadeiras, saiu balançando o rabo. "Uhn!", fez Dean. "Vamos segui-la, vamos levá-la pro Cadillac, lá no beco. Faremos uma festa!"Mas deixamos pra lá e fomos direto para a North Clark, depois de uma volta no Loop, para curtir as boates e ouvir bop . E que noite foi essa! "Oh, homem", disse-me Dean enquanto estávamos na frente do bar, "vê quanta vida fluindo pela rua, esses tipos enigmáticos do bairro chinês de Chicago. Que cidade estranha – uau, e aquela mulher debruçada na janela lá em cima, com as tetonas quase saindo fora do roupão, olhando pra rua com olhões bem abertos. Ufa, Sal, temos que continuar até chegarmos lá."
"Chegarmos onde, homem?"
"Não sei, mas temos que ir."
(...)    KEROUAC, Jack. On the road/Pé na estrada. São Paulo, Editora Brasiliense, 1984, pág. 250




lukas disse...
Graaaaaande Jack!! Grande Dean Moriart (Neal Cassady). Esses caras souberam viver. Pena que morreram de forma triste.







 Casa  do Lukas,  2007. Na trilha sonora, 'Recado', de Gonzaguinha na versão do Quarteto em Cy. Uma música que fala sobre amizade e companheirismo. 

Se me der um beijo - eu gosto
Se me der um tapa  - eu brigo
Se me der um grito -  não calo
Se mandar calar -  mais  eu falo
Mas se me der a mão
Claro, aperto
Se for franco
Direto e aberto
Tô contigo amigo (e não abro)
Vamos ver o diabo de perto


Mas preste bem atenção, seu moço
Não engulo a fruta e o caroço
Minha vida é tutano é osso
Liberdade virou prisão


Se é mordeu e recebeu
Se é suor,  só o meu e o teu
Verbo “eu” pra mim já morreu
Quem mandava em mim nem nasceu


É viver e aprender
Vá viver e entender, malandro
Vai compreender
Vá tratar de viver


E se tentar me tolher é igual
Ao fulano de tal que taí


Se é pra ir,  vamos juntos
Se não é,  já não tô nem aqui













4 comentários :

Anônimo disse...

Belíssima homenagem de uma pessoa linda e de uma amizade mais linda ainda!!!
beijos,
Vanessa Bellei

Anônimo disse...

A saudade do Lukas "corta feito aço de navalha..." Sem palavras.
Tânia e Sergio.

Ze Telles disse...

Ensaiei por várias vezes conhecê-lo pessoalmente, mas isso nunca foi possível.

Uma pena.

Ao menos trocamos ideias através de textos em seu blog.

Identificava-me e continuarei identificando-me com o conjunto da obra do cartunista, que, certamente, será objeto de estudos, pois registrou a história do lugar onde viveu através de olhar crítico e humor ácido através dos quais expunha sua visão de mundo.

Cultuava coisa simples, diferentemente da maioria dos mortais, e já não se sentia confortável com a Maringá dos tempos atuais, sobretudo da desfiguração ora em curso.

No conjunto da obra, foi, na prática, um bravo e eficaz militante da esquerda sem que mesmo disso soubesse ou assumisse a condição.

A sua partida precoce deixa lamentos não somente à família, à companheira, aos vizinhos do bairro onde morou, aos anônimos com os quais interagia e que o inspirava em sua obra, mas, sobretudo, a uma legião de admiradores que o cultuavam através das tiras como também de seus textos no excelente blog Casa do Noca, cujo acervo, penso, deveria ser objeto de “tombamento” via impressão e sistematização para exposição pública, pois resume o que foi e o que pensava Lukas acerca de tudo e de todos, através do viés político-ideológico, muito além da crítica presente em sua obra expressa por tiras.

Vida longa a sua obra nas mentes e corações !

Isa disse...

Marcelo e Ana, vocês são lindos e adorei rever e reviver tudo oque vivemos juntos aqui em casa.
Era disto oque ele gostava, estar com os amigos.
Beijos
Isa