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quinta-feira, outubro 30, 2008

FAHRENHEIT MORREU


Lí em O Diário e não acreditei, mas o próprio Edilson Confirmou. Fahrenheit morreu. Eis o texto publicado em O Diário, edição de ontem.

A morte do Sr. Fahrenheit

Padre Jorge foi hoje de manhã ao Prever com seus óculos redondos, cara de Francis Ford Coppola e encontrou JM no velório: "O velho Fahra se foi". "Vai se juntar ao saudoso Visconde do Ingá". "Que descansem em paz". JM tirou envelope.

Padre Jorge leu. "O cara pediu para você cantar no velório dele?". "Pode?". "Que música?". "In the rare old times". "Caceta!". Era estranho. Padre à distância observou a cara ossuda e os cabelos brancos revoltos do Sr. Fahrenheit no caixão esplêndido.

Por fim, perguntou: "Conhece a letra?". "Claro". "Onde achou?". "Youtube". "Vai cantar?". "Não sei". Padre Jorge olhou o ambiente, tinha gente estranha, velhota de quase noventa chorava. Cutucou JM: "Mulher dele?".

"Irmã mais velha". Mostrou a loirinha, cara de Jéssica Alba, pouco vulgar, mas com tudo em cima: "A gata do cara é aquela". Padre ficou de queixo caído: "Pelo papa Urbano II, mas ela tem pouco mais de vinte".

"Viagra é a revolução da hora, meu caro!". Os dois parados. Padre: "De que morreu?". "Excesso de sexo". "Não acredito". "Pois é". "Safado!". "Fala assim não: virou presunto". "Presunto safado".

Os dois destilando deselegâncias enquanto ao redor as pessoas falavam coisas nobres: "O Sr. Fahrenheit foi um grande sujeito, muito mordaz". "Uma espécie de Nelson Rodrigues. Sem exagero".

"Eu gostava da mescla de signos do cinema inseridos num bairro perdido da cidade". "Ele me fazia rir e refletir". "Há anos roubou minha namorada. O sacana. Ainda bem. Ela ficou velha e gorda". Padre Jorge disse a JM: "Não faça". "O quê?". "Cantar". JM tinha esquecido a história da música: "Por quê?". "Ninguém vai entender". "Vão achar que fiquei maluco". "Maluco é quem foi". "Claro, porra!". "E a coluna?". "Sei lá!".

Padre Jorge disse que às vezes quando vai a Nova Esperança pensa que não há jornal na América que publicou a cara de Mr. Willian Butler Yeats com tanta freqüência. "Não tinha pensado". "Coisas do velho Fahra".

A garota de Fahrenheit de luto da cabeça aos pés se aproximou de salto alto e ancas flutuantes, voz sensual como se convidasse os dois para qualquer coisa menos oração: "Vamos fechar o caixão.

Os senhores acompanham a despedida?". Padre Jorge foi e em vez do Padre Nosso ouviu: "Nossas vozes dessecadas, quando juntos sussurramos, são quietas e inexpressas como o vento na relva seca". Prudentemente ele se afastou: "Povo doido. Velório maluco". E caiu fora. JM aproveitou a deixa e saiu de fininho.

Por precaução, enfiou as mãos no bolso e com sua voz grave cantou baixinho enquanto andava: "Ring a ring a rosie, as the light declines. I remember song city in the rare old times".


Bulga, estou passando por aqui para deixar um abraço e um agradecimento. Fiz na edição de ontem a última coluna em O Diário -depois de umas cento e trinta edições - enterrando o velho Fahra, aliás com a reverente presença no Prever de Padre Jorge (que tirei daqui) e sua cara de Francis Ford Copolla. E para fechar o ciclo tenho de agradecer quem começou tudo, que foi justamente você. Que nos poucos contatos que tivemos por e-mail e telefone sempre se revelou um sujeito nota dez. Ir em frente não é tão simples, mas impossível se alguém não dá a largada. E terminar é uma questão de ciclo. Tudo que começa um dia acaba. Caso contrário, não faz sentido.

grande abraço

edilson

2 comentários :

.Antonio Roberto de Paula disse...

Simplesmente lamentável. Li no O Diário, mas não acreditei. Achei que fosse uma brincadeira. Quem deve ter ficado tão chateado com a notícia quanto eu foi meu tio Léo, pioneiro maringaense, e minha prima Sara. Os dois sempre falam comigo sobre o Fahrenheit, querem saber quem é, quando morou em Maringá. Acredito que muita gente vai lamentar sua ausência no Caderno D+ do O Diário. Não tive o prazer de conhecer o Edilson, mas admiro o que escreve e como escreve. Ele é genial. Boa sorte a ele.
Antonio Roberto de Paula

Anônimo disse...

Também sentirei falta. Quando ainda sonhava em ser colunista, ficava lendo ele, o De Paula e outros que me estimulavam a ler o jornal. O que será das nossas quartas-feiras agora, sem ele? Espero que, pelo menos, consigamos ler seu texto em outros lugares, em livros, quem sabe?
Abraço ao Fare, que nunca me respondeu um e-mail, mas que me fez refletir, mesmo rindo, em vários de seus textos.
Abraço!